Onde encontrar transistores e diodos com códigos estranhos

Onde encontrar transistores e diodos com códigos estranhos.

Quase todo dia recebo “pedidos de ajuda” para identificar transistores e diodos com códigos estranhos, ou melhor, para indicar onde comprá-los.

Não sei por que estas pessoas pensam que eu devo possuir super poderes advinhatórios ou tenha contato direto com seres extraterrestres capazes de suplantar o Google e, num passe de mágico, informar o “substituto” e se possível o endereço da loja onde comprar, inclusive com o preço!

Resolvi então, escrever este artigo na tentativa de ajudar estas pessoas desesperadas que já recorreram a todas as cartomantes e jogadores de búzios, sem sucesso, e que além de “não trazer seu amor de volta em três dias” também não ofereceram a solução para encontrar aquele transistor ou diodo com um código “bizarro”.

Por que tantos componentes com códigos diferentes e fazendo a mesma coisa?

Em linhas gerais a história dos componentes eletrônicos pode ser resumida como veremos adiante.

Nos primórdios da eletrônica as principais indústrias de componentes eram americanas e europeias e como nestes países tudo lá gira em torno de uma “associação” os fabricantes formaram algumas delas que procuram adotar nomenclaturas padronizadas e com critérios bem definidos.

Depois vieram os japoneses. Destes nem é preciso falar da sua organização e assim as nomenclaturas seguiam padrões bem definidos.

Lá pelos anos 90, chineses e coreanos entraram neste mercado extremante lucrativo e fabricar semicondutores foi se tornando cada vez mais fácil.

Hoje em dia qualquer um de nós pode encomendar “meia dúzia” de circuitos integrados de baixa complexidade para um projeto que nós mesmos desenvolvemos e pedir que saia da fábrica com o “nosso código”.

Já percebeu a bagunça que ficou?

Imagine que eu (ou você) pretenda construir, digamos, cinco mil fontes chaveadas, desenvolvo um projeto com componentes discretos e depois de testado encomendo numa “pastelaria” na China os cinco mil ci´s com o código “PB500/2017” eles fabricam para mim (ou você) e lá se vão para o mercado as cinco mil fontes com um componente cujo data sheet não se encontra em lugar nenhum, bem como o componente para comprar.

Exagerei um pouco, mas é mais ou menos isto que está acontecendo.

Entendeu o problema?

Vamos a algumas regras básicas para reparar equipamentos que usam transistores e diodos “alienígenas”.

A primeira delas, que pode parecer óbvia, mas que certamente muitos não adotam, é tentar descobrir o data sheet da “mosca branca” através do Google que é mais poderoso nesta tarefa do que eu.

Atenção: Esta regra não se aplica aos curiosos de plantão, ela pressupõe como condição obrigatória que o “pesquisador” tenha sólidos conhecimentos de eletrônica.

É claro que eu entendo perfeitamente que uma das principais “virtudes” do ser humano é pedir ao próximo quer faça alguma coisa em seu lugar, principalmente quando “fazer essa coisa” exige algum esforço como, por exemplo, pensar.

Então a regra número um, neste caso, é uma adaptação da prece de São Francisco de Assis que fica assim: – “É procurando que se pode achar”!

No caso de São Francisco não ter ajudado nem tão pouco São Google, teremos que aplicar a regra número dois que exigirá uma dose maior daquilo que muito humanos não gostam nem um pouco de fazer: – pensar.

A regra número dois é bem simples. O componente de “código secreto” está em algum equipamento de marca conhecida?

Neste caso o melhor ou talvez o único jeito de se conseguir o componente é através de uma autorizada do fabricante do equipamento e se nem ela resolver, já vou avisando que também não vai adiantar recorrer ao STF (nem a mim!).

Se, mesmo tendo falhado as duas regras anteriores, você colocou como ponto de honra consertar  “o trem” (como dizem os mineiros) o jeito é apelar para a regra número três, esta sim, capaz de provocar odores estranhos no ambiente uma vez que, definitivamente, você será obrigado a pensar.

A regra número três exige que você comece identificando no circuito a função do componente “extraterrestre” o que também exige que você tenha estudado eletrônica e saiba como os componentes funcionam.

Esta fase exigirá que se analise o circuito cujo esquema você provavelmente não tem e se já usou a regra número um para encontrá-lo, sem que suas preces fossem atendidas e em vez de me pedir ajuda espiritual o jeito será “levantar” o circuito, às vezes, com a paciência de um monge tibetano a procura de uma agulha num palheiro.

Se não tem vocação para monge tibetano e eu confesso que também não tenho, aqui entra a regra número cinco que diz: – “JOGUE A TOALHA, DESISTA, PEÇA PARA IR AO BANHEIRO, SAI A DE FININHO E NÃO VOLTE MAIS”.

Se ainda tem a pretensão de se candidatar a uma vaga de monge tibetano, então e hora de tentar a regra número quatro que eu pulei de propósito porque sei que pouca gente tem vocação para monge aqui no Brasil.

Uma vez identificada a função da “coisa” no circuito é hora de procurar circuitos similares e ver o que está sendo usado no mesmo lugar.

Volte à regra número um, ou seja, procure no Google pelo data sheet e quem sabe desta vez a sorte lhe sorria.

E aqui começa uma fase de tentativa e erro, às vezes, com mais erros que tentativas.

Busca em sucatas por peças que fazem a mesma coisa, mas que não se tem muita certeza se a substituição irá funcionar ou o que é pior ainda a coisa sairá totalmente de controle.

Um ótimo desafio para quem gosta de viver perigosamente e também trabalhar horas a fio e no final não ganhar nada.

Como dizem por aí “tô fora” e se o problema não é contigo, então também não é comigo, ou seja, regra nº 6: – não adianta me pedir para fazer milagres, pois ainda não fui canonizado (só depois que eu morrer).

 

 

 

 

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Paulo Brites

Técnico em eletrônica formado em 1968 pela Escola Técnica de Ciências Eletrônicas, professor de matemática formado pela UFF/CEDERJ com especialização em física. Atualmente aposentado atuando como técnico free lance em restauração de aparelhos antigos, escrevendo e-books e artigos técnicos e dando aula particular de matemática e física.

Website: http://paulobrites.com.br

18 Comentários

  1. alex

    BOA NOITE PRECISO DE AJUDA ONDE ENCONTRO MOSFET APT 6035BN OU EQUIVALENTE AQUI NAO TEM CURITIBA e de uma tv phillips projetor

  2. Claudio Santos

    Bom dia senhor Brites lendo estes comentarios de codigos de transistores smd estranhos me deparei com este em uma fonte da samsung apenas escrito isso 520 em buscas no google não deu em nada e agora mestre,hehe abraço e um bom domingão.

  3. Jarbas A Brito

    Parabéns pelo site ta muito bom!!

  4. Jarbas A Brito

    O que eu gosto em vc Paulo ( meu professor eterno) é a maneira simples e hilária para explicar as coisas, o que as vezes é a maneira mais fácil de se resolver um problema. Todos nós ja passamos por essa situação acima citada. parabéns “guerreiro” um grande abraço de seu eterno aluno da Antena ! lembra????

    • Paulo Brites

      Olá Jarbas, claro que lembro De vez em quando te encontro lá no Fernando Sábado agora devo ir lá
      Sobre os meus escritos o que acho é que a vida, às vezes, já é tão complicada de seu vivida pra que complicar o que se pode simplificar.

  5. Cesar J. Fois

    Meu caro amigo, morri de irr, com este post, e eu achando que no final iria a mostrar um link. kkkk

    • Paulo Brites

      Que bom que lhe fiz rir,pois Rir é o melhor remédio que existe para tudo.

  6. bait13

    Isso me faz lembrar dos casos de oficina em TVKX , grande abraço mestre Brites .

    • Paulo Brites

      Que bom, estou em boa companhia.
      Abraços

  7. João de Oliveira ceuz

    Este é um dinossauro dá eletrônica: não é no sentido antiquado, não, no sentido de grandeza! Parabéns mestre, te admiro muito, já tive o prazer de convidar conhece-lo pessoalmente, sou um previlegiado.

    • Paulo Brites

      Valeu João pelo apoio. Eu sou “a lenda” kkkk

  8. Jorge José

    Estas são as razões porque eu gosto da eletrônica aplicada, temos que usar a massa cinzenta .muito bom Paulo.

    • Paulo Brites

      Pois é, Jorge As pessoas estão ficando cada vez mais preguiçosas e descompromissadas com o trabalho. Ainda bem que na “minha época” não existia o Google.

      • Boa tarde senhor Brites . Sou um curioso da informática claro tentando apreender … E é Claro fica mais difícil sem conhecimento em eletrônica … “” E fica pior Ainda quando me aparece a desgraça de um Transistores mosfets , que sai dando mediçao em tudo que é lado aí eu fico doido pois vivo vendo videos no youtube vendo os cara medindo o msm e dando tudo certinho … Aí que fico louco .. Aí vindo aqui sem querer me Matei de rir com seu Blog , vendo suas explicações ..Muito bom … Esta de Parabéns …

        • Paulo Brites

          Olá And Sky
          Que bom que gostou do site e aqui aproveito para alguns comentários
          Para se estudar qualquer coisa precisa-se de um método principalmente quando se trata de um assunto que desconhecemos
          A questão de ficar procurando vídeos no youtube aleatoriamente pode complicar mais que ajudar porque a maioria trata das coisas de forma muito pontual.
          Sem querer puxar a brasa para a minha sardinha, mas já puxando, sugiro que você deveria ler meu livro Eletrônica para Estudantes, Hobistas & Inventores.o estilo do livro é o mesmo dos post “descontraído” e você vai “se matar de rir” mais ainda. O livro trata a eletrônica com uma sequencia lógica de estudo e foi escrito por alguém (eu) que tenhas “apenas” mais de 50 anos de teoria e prática. De uma olhada no demo e decida Abraços

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