O reparo de uma impressora HP e a “maldição” das peças falsificadas
O reparo de uma impressora HP e a “maldição” das peças falsificadas
Não é de hoje que eu escrevo sobre este problema das peças falsificadas que, certamente, já derrubaram muitos técnicos por não acreditarem que não é ele que está “errado” no seu diagnóstico e sim que ele foi enganado ao comprar aquele transistor mais barato.
Quando você compra um tênis, por exemplo, daquela grife famosa que não dura mais que três ou quatro meses porque não tem a qualidade do original, o prejuízo é apenas financeiro e até você, talvez, esteja assumindo este risco sabendo que pagou um preço que está muito abaixo do preço real.
A coisa complica quando se está reparando um equipamento e tem certeza que encontrou a peça defeituosa, mas ao substituí-la por outra novinha o aparelho não funciona.
Jamais nos passa pela cabeça de que o problema possa estar numa peça falsificada.
Foi isso que aconteceu comigo há alguns dias e ensejou este artigo.
Defeito, vício ou obsolescência programada?
Recentemente, um amigo me pediu que avaliasse sua impressora HP 4280 que não puxava o papel e dava indicação de atolamento.
Este é um “defeito” clássico de várias impressoras HP que disfarçadamente faz parte da “técnica” de obsolescência programada.
Para saber mais sobre obsolescência programada veja http://pt.wikipedia.org/wiki/Obsolesc%C3%AAncia_programada
Em outras palavras “tá na hora de comprar outro equipamento”.
Mas, vamos ao que nos interessa.
Começando o reparo
Sempre começo pela inspeção visual para ver se não há nenhum pedaço de papel agarrado dentro da impressora ou outras coisas menos pertinentes como um clips, um amendoinzinho ou quem sabe uma chave (de porta mesmo) que estava desaparecida faz tempo!
Se o problema – não puxa o papel, atolamento – não tiver uma destas “causas”, então é hora de deixar a preguiça de lado, arregaçar as mangas e começar a desmontar impressora com direito sujar as mãos de tinta.
Retiradas todas as partes do gabinete vamos direto ao vilão da história, ou seja, uma pecinha de plástico (feita para quebrar um dia, pois se fosse de alumínio, por exemplo, nunca quebraria) a qual é chamada “tecnicamente” de atuador do kit de limpeza.
O kit de limpeza, como o nome diz, é o responsável por fazer a limpeza da cabeça de impressão que em muitos modelos de impressoras faz parte do cartucho de tinta.
Não deu outra. Lá estava a dita cuja com uma pontinha quebrada.
Mostrei o problema ao meu amigo e indiquei-lhe a autorizada da HP aqui no Rio onde ele poderia comprar a peça original pelo valor de doze reais.
Alguns dias depois ele me trouxe a peça e após a substituição, a impressora voltou a funcionar. Assim, conseguimos ajudar o planeta a não receber mais um lixo “hightech” (e meu amigo economizou uma grana, mas ficou me devendo um almoço rsrsrsrs).
Mais uma impressora HP para reparo
Cerca de um mês depois outro “amigo” me procura pedindo para ajuda-lo com a sua impressora HP, pois ela não puxava o papel e dava indicação de atolamento no display.
Alguém adivinha qual o modelo da impressora?
Isto mesmo, de novo a C4280!
Nem perdi tempo em abrir a impressora e já fui pedindo para que ele comprasse um “atuador” novo.
Só que o preguiçoso não comprou a peça na autorizada da HP; preferiu comprar pelo Mercado Livre para não sair de casa.
Ao chegar a peça, abri a impressora e, como esperado, a história se repetiu. O atuador realmente estava quebrado. Só que desta vez a historia não teve um “final feliz”, pelo menos de imediato.
Trocada a peça, a impressora não funcionou, continuando a apresentar o mesmo sintoma: não puxa o papel e indicação de atolamento.
Nesta hora, você diz alguns palavrões, e se pergunta: será que há outro defeito?
Reexaminada a colocação da peça, que não tem como ser colocada de forma errada e feita uma cuidadosa inspeção visual cheguei a conclusão que não poderia ter outro defeito.
O melhor nestas ocasiões é “dar um tempo”. Talvez, quem sabe, a espera de um milagre!
Passado um fim de semana sem olhar para a “maldita” impressora, veio-me uma ideia (ou teria sido o milagre?): a peça não tinha sido comprada na autorizada, ou seja, não se poderia garantir que era original ou pelo menos uma falsificação “das boas”.
Por que não pensei nisto antes?
A peça, embora aparentemente fosse igual, deveria ter uma imperceptível diferença que não a deixava se encaixar perfeitamente no lugar.
Lembrei-me dos meus velhos tempos dos vídeos cassetes e da mecânica G que tanta surra deu nos técnicos.
Estas mecânicas, comandadas por circuitos eletrônicos micro controlados, exigem total precisão para funcionar.
Comentei minha suspeita com o dono da impressora (repararam que já não estou mais chamando de “meu amigo” rsrsrrsrs) e aí veio uma surpresa interessante e agradável ao mesmo tempo.
Por uma confusão, ele havia comprado o atuador em dois fornecedores diferentes do Mercado Livre.
No dia seguinte ele me trouxe a peça do outro fornecedor e o final da história você já pode imaginar: – a impressora funcionou! (e eu voltei a chamá-lo de “meu amigo”).
A lição que fica
Em primeiro lugar é importante estar convicto que os equipamentos digitais modernos não funcionam de qualquer jeito como os antigos analógicos.
Por outro lado é preciso saber interpretar as mensagens de erro que aparecem nos painéis dos equipamentos.
Neste caso, a mensagem “atolamento” não significa exatamente que há papel preso em alguma parte do mecanismo.
Quando o papel é puxado ele aciona uma pequena alavanca de plástico acoplada a um sensor foto elétrico que enviará um comando ao micro informando: “Até aqui, tudo bem. Pode continuar”.
Se o papel não chegou lá é porque atolou. Foi o que o projetista “pensou’ e gravou no programa do micro que enviará a mensagem para o display.
Entretanto, se o papel não for puxado a mensagem vai ser ”sem papel” e como ele não chegou na saída, isto também será interpretado como “atolamento”, embora não tenha nenhum papel preso no mecanismo.
O papel não foi puxado porque o mecanismo que movimenta o suporte onde estão os cartuchos está com uma peça quebrada ou desalinhada, como foi o caso.
Conclusão: – As mensagens de erro dos equipamentos nem sempre seguem uma lógica “humana”.
Moral da história:- como diz certa propaganda – peça original (ou pelo menos bem falsificada) é outra coisa!
Até sempre
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