A importância do osciloscópio na bancada do técnico
A importância do osciloscópio na bancada do técnico
Sempre me pergunto como pode um técnico, seja ele projetista ou reparador, viver sem um osciloscópio em sua bancada.
Mal comparando seria como um médico seja lá qual for sua especialidade, sem um medidor de pressão arterial em sua “bancada” (esfigmanômetro é o nome técnico da “coisa”) e o seu “companheiro”, o estetoscópio que para nós seria a ponteira de prova. E o pior que não ter é não saber usá-lo!
Tiver a “honra” de conhecer o osciloscópio na época do meu, já mui distante, curso técnico lá pelos idos de 1966.
Era o meu sonho de consumo, mas naquele tempo custava quase tão caro como um carro de luxo hoje em dia.
O jeito é ficar olhando as vitrines das lojas de eletrônica como cachorro em porta de padaria apreciando o frango assado.
Nos meus tempos de Embratel tive a oportunidade de tê-los nas mãos ao vivo e a cores.
E assim lá por volta de 1985 consegui meu primeiro osciloscópio (o primeiro a gente nunca esquece), um Hitachi V-355 duplo traço de 35MHz que, quase 30 anos depois, já apresentando alguns sinais de “Parkinson”, ainda me faz companhia e que não pretendo abandoná-lo como muitos fazem com os seres humanos quando ficam velhos.
Naquela época eu me iniciava no reparo de vídeo cassetes, me especializava em transcodificar os importados e, portanto era impossível não ter osciloscópio.
Posso garantir que usar um osciloscópio pode chegar a ser mais fácil (depois que a gente aprende e fica “viciado” nele) que usar um multímetro analógico que a nova geração de técnicos talvez nem conheça.
Qual a mágica do osciloscópio?
Vou mudar a pergunta: como um médico sabe que alguém está enfartando e qual a extensão deste infarto?
Ele pode começar com o multímetro, ops! eu queria dizer “com o medidor de pressão”, mas vai ter que pegar o osciloscópio, ops! errei de novo, queria dizer o “eletro cardiógrafo”.
Basicamente o funcionamento de todo equipamento eletrônico pode ser dividido em duas partes: tensões contínuas, para polarização dos componentes, e tensões senoidais que são a razão de ser do equipamento, porque ninguém compra um televisor para ficar só ligado, mas sem imagem.
Antes que alguém me critique porque eu disse “tensões senoidais” e não mencionei sinais digitais, lembro que um sinal digital no fundo no fundo tem um montão de senóides “escondidas” dentro dele como bem “descobriu” Jean Baptiste Fourrier lá no século XVIII e morreu sem saber da importância desta sua “descoberta” para os dias de hoje.
Então para que fiquem todos felizes digamos assim: um equipamento eletrônico PRECISA obrigatoriamente das tensões contínuas para que seus componentes, devidamente polarizados, processem sinais analógicos ou digitais. Tá bom agora?
Tudo bem, e onde entra o osciloscópio nesta história?
Com um multímetro, ou melhor, voltímetro, analógico ou digital, você só irá medir as tensões de polarização e mesmo que elas estejam corretas isso não garante que os sinais estejam sendo processados corretamente.
Com o osciloscópio você vai VER a “cara” do sinal (se ele estiver lá) e saber se ele é feio ou bonito (pois, como disse Vinicius “as feias que me desculpem, mas beleza é fundamental” e eu digo “em eletrônica também”).
Por exemplo, você está reparando um amplificador cujo som de um canal está muito mais baixo que o do outro.
Aí você começa a medir as tensões nos terminais de todos os transistores (ou porque não das válvulas!) e compara-os com canal bom e o ruim. Todas as tensões “batem” e aí?
E aí você injeta um sinal senoidal de 1kHz em cada entrada e começa a “prossegui-lo” com os osciloscópio ponto a ponto nos doiscanais.
De repente, não mais que de repente – bingo! O sinal ficou mais baixo aqui! Ops! Como diria Drumond “tem uma pedra no meio do caminho”, no meio do caminho tem um capacitor eletrolítico. Cadê a capacitância dele que deveria estar aqui? Será que o gato comeu?
Aí você troca o capacitor “descapacitado” e o canal que estava mais baixo começa a berrar desesperadamente.
Seria possível descobrir este defeito sem osciloscópio? Talvez sim, provavelmente três dias depois, isso se você não arrebentar um monte de trilhas do impresso de tanto troca-troca de peças.
Respondi qual é a mágica do osciloscópio?
Osciloscópio é adivinho?
Quando eu ministrava meus cursos de manutenção um empresário de uma autorizada aqui no Rio fechou comigo uma turma para um curso de osciloscópio para 10 ou 15 técnicos da sua empresa.
Era um pacote de “porteira fechada” em que entraria gerador de barras e analise de circuitos e sinais em TV (ainda no tempo das CRTsemidigitais). O pessoal começou a chegar e se fossemos somar a idade de todos os participantes iria passar de 1000 anos.
Aquela turma até vinha consertando tudo de olhos fechados e com as mãos amarradas porque já tinha todos os defeitos decorados.
Mas como sempre digo “quando a gente aprende todas as respostas, a vida muda todas as perguntas” e aí o bicho começou a pegar e a autorizada do cara estava prestes a mudar de nome para “Eletrônica Horti-Frut” com o slogan “abacaxis e pepinos em promoção”.
Moral da história: o curso de uma semana só durou dois dias.
Por quê? Os alunos aprenderam tudo rápido?
Não. Os alunos fugiram porque o osciloscópio não servia para nada, pois na opinião dos tecnosauros não “dizia” qual a peça que tinha que trocar!
Não pense que o osciloscópio tem alguma parceria com um adivinho e basta acender um incenso do lado dele que a peça a ser trocada será enviada por SMS para o seu celular ou por WHATSAPP (afinal você é um técnico moderno).
Para ser bem sucedido com o uso do osciloscópio a primeira coisa é: “é preciso ser técnico”, ou seja, saber o que vai procurar no circuito.
A segunda questão é conhecer a função de todos os botõezinhos do osciloscópio para poder ajustá-lo de acordo com a situação.
E a terceira é saber analisar a imagem que aparece na telinha e discernir qual o problema. Lembrando que a imagem pode até estar ruim porque algum (ou alguns) ajuste(s) das funções do osciloscópio foi ajustado de forma inadequada(s).
Qual o melhor osciloscópio: Analógico ou digital?
Embora eu seja um fã das coisas analógicas tenho que confessar que me rendo ao osciloscópio digital que está nos meus planos de consumo para um futuro próximo (mas não pretendo me desapegar do meu “velhinho” Hitachi).
Estou na fase de pesquisa de qual marca e modelo (e preço também) comprar.
Há uma polêmica sobre a qualidade do sinal que um digital mostra na tela como sendo mais ruidoso do que o analógico.
Grosso modo a questão é que o digital “mostra tudo”, enquanto o analógico esconde sinais de frequências mais altas que possam estar “escondidos” no sinal que está sendo pesquisado.
Por outro lado o osciloscópio digital exige mais cuidado na escolha correta dos parâmetros uma vez que ele tem mais recursos que os analógicos.
É preciso que o técnico pratique para conhecer os recursos do seu equipamento e saiba usá-los adequadamente.
Atualmente se você for comprar um osciloscópio novo praticamente só encontrará os digitais. Analógicos só de segunda mão (embora, às vezes, possa estar novo).
A questão não é só comprar isso ou aquilo. Há que se fazer uma boa pesquisa antes ver os prós e contras e finalmente ver se cabe no seu bolso.
Mas vale um osciloscópio mais simples na mão de quem sabe usar do que um “poderoso” se o “técnico” não sabe nem onde fica liga-desliga.
Para finalizar informo que Fernando José e eu estamos preparando um curso prático sobre o uso de osciloscópio digital para 29 de novembro com ênfase em pesquisa de sinais em televisores lcd.
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