Robótica, Educação maker, STEM
Robótica, Educação maker, Educação STEM
Quem tem filhos na escola ou está procurando uma para eles certamente vai ouvir de seus diretores ou da equipe pedagógica, que a escola oferece aulas de robótica, educação maker ou educação STEM.
Por que estou escrevendo sobre estas coisas?
Antes de prosseguir com o tema que ora abordo – robótica, educação maker e educação STEM – vale um esclarecimento, especialmente para aqueles que me seguem, para a minha aparente mudança de rumo. Estaria eu deixando de escrever sobre eletricidade e eletrônica para escrever sobre educação?
Minha resposta é não, entretanto pretendo também aproveitar este espaço para discutir como a tecnologia está se embrenhando cada vez mais nas nossas vidas e a educação não poderia ficar de fora.
Não é de hoje que eu penso no assunto robótica dentro da sala de aula e isto começou lá em 2009 quando conheci o Arduino através do projeto Seria Lab de Elen Nas.
Naquele ano fui solicitado pelos organizadores do projeto para instalar sensores de presença que interagissem com o Arduino.
Naquela época, já lá se vão sete anos, eu e pouca gente no Brasil sabíamos o que era Arduino e como não costumo dizer não, mesmo sem saber o que era Arduino, topei o desafio.
Estudei o assunto, aprendi o que era Arduino, realizei o trabalho, o projeto foi apresentado no Centro Cultural da Caixa no Rio de Janeiro em setembro de 2009 e funcionou! (ainda bem).
A partir daí eu “contaminei” com a ideia do Arduino o meus amigos Prof. Cesar Bastos da FAETEC (ETEFV) e o João Alexandre da Silveira, o Alex, e este, incentivado por mim, escreveu o primeiro livro em português sobre Arduino.
Depois disto eu findei me enveredando por outros caminhos e mantendo o Arduino na gaveta, por um tempo, mas sempre pensando “nele”. Chegou a hora de voltar a ele.
Robótica na veia
Recentemente este tema da robótica na sala de aula cruzou novamente o meu caminho, mas de maneira diferente ao conhecer a COLMAKER/VEX e passar três dias do mês de março no SESI Maracanã/RJ imerso em uma competição de robótica.
Aquela adrenalina de me ver cercado de centenas de adolescentes ávidos por conhecimento reativou minha paixão por educação e resolvi pensar como poderia participar e contribuir com este processo para encontrar respostas (que certamente nunca encontrarei) para a eterna pergunta dos professores – por que alguns alunos (ou todos) não gostam da escola?
O que significa STEM
No título do post eu falo não apenas em robótica, mas também em Educação Maker e Educação STEM e o faço porque na verdade está “tudo junto e misturado”, como dizem por aí.
Então vamos lá, usando o jargão da moda – “partiu STEM”.
Para quem não é do ramo da educação ou é um professor conservador e pouco “antenado” com as mudanças no mundo e na educação, o significado da sigla STEM pode ser um mistério, mas não fique triste porque mesmo lá nos Estados Unidos muita gente também não sabe o que é.
Então vamos começar pelo significado de cada letrinha da sopa: Science, Technology, Engineering and Mathematics. Há uma corrente que acrescenta um A de Arts, no que eu concordo plenamente, e aí teremos STEAM. Mas, isto é mero um detalhe.
Não precisa ser fluente em inglês para traduzir as quatro ou cinco palavras mágicas, que junto com a Educação maker , que numa tradução direta seria educação de fazedores e a robótica pretende “revolucionar” a educação, ainda no início do século XXI. Basta usar aquele inglês “básico” que, na maioria dos casos, passa-se três ou quatro anos “estudando” na escola porque faz parte do currículo, e até se consegue sair dizendo, ao fim deste tempo – “the book is on the table”.
Vamos lá. Ciência, Engenharia, Tecnologia e Matemática (talvez acrescentemos Artes), estas palavras parecem que soam indústria, que soam mão de obra qualificada, que soam emprego, que soam economia crescendo e por aí vai.
Essa metodologia está ganhando cada vez mais força nos Estados Unidos (dentre outros países) o que nos mostra que aquilo que reclamamos que está faltando aqui no Brasil parece que também anda acontecendo lá fora.
Para vencer esta batalha, em 2009, a administração Obama lançou uma campanha intitulada Educar para Inovar (aqui é pátria educadora kkk) cujo objetivo seria habilitar os professores a fim de aperfeiçoarem o ensino nestas áreas do conhecimento visando levar a indústria americana alcançar o topo da competição na arena internacional ameaçada pelos asiáticos.
A eterna busca pela melhoria da educação
Por outro lado, vale lembrar, que todo professor estudou durante a sua formação pelo menos um pouco da história da educação e mesmo não sendo um especialista no tema sabe que a educação, seja no Brasil ou no mundo já passou por varias reformas cujo objetivo no fundo é responder aquela clássica pergunta “Por que os alunos não gostam da escola?” que é o título do livro de Daniel Willingham, cuja leitura eu recomendo.
Entretanto, paradoxalmente a despeito de todas as reformas da educação que já ocorreram e que continuarão a ocorrer (ainda bem!) a escola parece disputar com a igreja o título de instituição mais conservadora do mundo.
Felizmente, as duas instituições estão percebendo que estamos no século XXI e que, falando no caso especifico da escola, o aluno de hoje é bem diferente dos alunos dos séculos XIX e XX, não porque eles sejam desinteressados, como muitos insistem em acusar, mas porque o mundo em torno deles e no qual eles vivem muda a cada segundo e lhes oferece coisas bem mais interessantes que a escola o faz, pelo menos a princípio.
Até o século XIX ou quem sabe meados do século XX a educação era apenas para as elites e tinha como objetivo principal a cultura e o desenvolvimento do intelecto.
Com a revolução industrial a coisa começou a mudar porque a indústria não queria mais um artesão que levasse um ano para produzir sua melhor obra, ela queria um operário que produzisse centenas ou milhares de peças no menor tempo possível.
Hoje estamos na quarta fase da revolução industrial ou indústria 4.0 como é chamada e o trabalhador desta indústria, seja ele no chão de fábrica ou nos escritórios de desenvolvimento precisa ter uma mente aberta às mudanças e aceitá-las ou mais ainda, interagir com elas. O profissional do futuro, que já chegou, precisará ser mais analítico, saber tomar decisões e operar em grupo. O espirito de equipe tem que ficar acima do individualismo.
Afinal as pessoas precisam trabalhar para sobreviver e precisam estar preparadas para isso. Aqui entra uma escola que tem que se preocupar não apenas com a preparação do intelecto, mas de um indivíduo que esteja preparado para novos postos de trabalho que a indústria cria e com habilidades necessárias para assumi-los.
E é aí que entra um “novo” modelo de educação que utiliza a robótica como deflagradora e ao mesmo tempo agregadora de um processo de aprendizado em que o estudante deixa de ser meramente receptivo e passa a ter que apresentar repostas novas para problemas antigos ou para problemas que ainda irão surgir.
Como disse Einstein “Imaginar é mais importante que saber, pois o conhecimento é limitado enquanto a imaginação abraça o Universo”.
Este é o cerne dos modelos maker (diy – do it yourself – faça você mesmo) e STEM ou STEAM e o primeiro desafio é integrá-los com a robótica que, em princípio, tem o papel de funcionar como motivação para o estudante neste processo de aprendizado “diferente” e que, sem o aluno perceber, o fará estar estudar matemática, física e até transversalmente outras disciplinas de forma mais prazerosa.
Eu disse que esse é o primeiro desafio, mas talvez na verdade seja o último, pois o primeiro seria ter professores “treinados” e desprendidos do modelo tradicional e conservador de “ensinar”, capazes de aceitar uma estratégia de ensino que eu chamaria de “open source” onde a aula pode e certamente tomará caminhos que exigirá do professor a humildade de aceitar a aprender junto com os alunos. O professor deixa de ser o dono absoluto do conhecimento para alguém capaz de ajudar a produzir o conhecimento respondendo perguntas não com repostas prontas, mas com outras perguntas que instiguem e desafiem a capacidade de pensar do aprendiz.
Como disse Cora Coralina “feliz aquele que aprende o que ensina”.
A “educação bancaria” já denunciada por Paulo Freire na década de 60, definitivamente não tem mais espaço no mundo tecnológico atual.
Mas, há ainda, pelo menos um terceiro desafio, talvez maior que os dois primeiros. Para trabalhar a educação neste “novo” formato não podemos ter salas de aulas lotadas e professores que trabalham, às vezes, mais de 40 horas por semana correndo de uma sala para sala para outra ou de uma escola para outra para garantir a sobrevivência mínima dele e de sua família. O trabalho do professor não pode ser encarado como um survival job (trabalho de sobrevivência). Alias, para ninguém deveria ser assim.
O professor precisa ter tempo para continuar estudando e não apenas gastar seu tempo para corrigir provas.
Utopia e realidade
Não sei se viverei o bastante para ver estas ideias se tornarem verdadeiramente realidade, mas sonhar não custa nada, disse uma vez um poeta. “Não se paga para sonhar” e os governos ainda não descobriram como cobrar impostos dos nossos sonhos.
Perguntaram uma vez ao cineasta argentino Fernando Birri para que serve a utopia.
E a respostas dele foi das mais interessantes que já vi e passei a fazer das palavras dele uma espécie de mantra para minha vida.
“A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais o alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”
Estamos no meio, ou melhor, dentro de uma revolução, a revolução tecnológica. E nesta revolução, diferente das outras, não conhecemos a cara nem a ideologia do “inimigo”, então manda a prudência que é melhor aprendermos a conviver com ele da forma “mais civilizada” possível.
Até sempre.