Foto acopladores ou foto isoladores, o que é preciso saber sobre eles

Este é um componente de larga aplicação em eletrônica como televisores a automóveis, apenas para citar duas.

O foco deste post serão as fontes chaveadas que “não vivem sem ele” e pelo que percebo parece que ainda pairam algumas dúvidas para os técnicos reparadores a respeito deste componente.

O que fazer na hora da substituição quando não se encontra o original?

Aliás isto é uma das maiores dificuldades do técnico não só com os foto acopladores ou foto isoladores, mas também com outros componentes como fets e mosfets, por exemplo.

Não canso de repetir, mas me parece que muitos técnicos ainda não perceberam que tudo deve começar pelo data sheet e não pelo vendedor da loja nem tão pouco me mandar e-mails pedindo a solução.

O técnico precisa e deve se tornar independente e aprender a ler e interpretar especificações dos componentes nos data sheets o que é tão importante quanto medir tensões (e saber o que está medindo).

Depois do rápido “puxão de orelha” vamos ao eleito do dia, os foto acopladores ou foto isoladores.

Começo observando que há uma sutil diferença conceitual entre os dois e escolher o componente correto dependerá da aplicação, ou mais especificamente falando do valor da tensão que se pretende isolar e não do que cada termo significa propriamente dito.

Entretanto, saber o que cada termo significa pode ajudar na hora da pesquisa, então vamos a definição de cada um.

A função destes componentes é transferir sinal analógico ou digital entre dois pontos de um circuito sem que haja contato físico entre estes dois pontos.

Um transformador também faz isto, mas tem as suas desvantagens como tamanho, peso e isso sem falar nas limitações de resposta de frequência e de isolação.

  • Foto acopladores (phtocouplers) isolam tensões até 5000V.
  • Foto isoladores (photoisolators) isolam tensões entre 5000V e 50.000V ou mais.

Uma conclusão que parece óbvia é que os fotoisoladores devem ser mais caros que seus “irmãos” fotoacopladores.

Você já deve ter concluído também que as fontes chaveadas de equipamentos domésticos devem usar fotoacopladores e não fotoisoladores, embora eles pudessem ser usados, mas não seria economicamente recomendado.

Feitas estas observações semânticas, úteis também em conversa de botequim, passemos as especificações e como interpretá-las.

O que tem dentro do foto acopladores ou foto isolador?

Independentemente da aplicação do componente ele é composto de dois lados “fisicamente independentes ou isolados”: entrada e saída.

Simbologia de um um foto acoplador ou foto isolador

Simbologia de um um foto acoplador ou foto isolador

Na entrada temos um diodo emissor de luz o “vulgo” LED e na saída pode ser um foto diodo, foto transistor ou qualquer componente sensível a luz ou foto sensível, para usar um termo mais sofisticado.

A simbologia é a mesma tanto para o acoplador como para o isolador, portanto para saber se é um outro só recorrendo ao data sheet, mas como eu disse antes em se tratando de fontes chaveadas o mais provável é que se trate de um foto acoplador.

Entendendo as especificações dos data sheets

A primeira coisa a fazer é dividir em entrada e saída.

Então vamos dar uma olhada neste pedaço de data sheet do popular PC817 onde a sigla PC denuncia que se trata de Photo Coupler, ou seja, em bom português, foto acoplador e embora, isto não seja uma regra neste caso funcionou.

Especificações PC817

Especificações PC817

Para tornar a análise das informações mais didática eu marquei o bloco de entrada em verde e o bloco de saída em azul.

O lado de entrada, como é um diodo (um LED é um diodo), temos os parâmetros usuais para este tipo de componente:

  • IF – Forward Current – Corrente direta
  • IFM – Peak Forward Current – Corrente direta de pico
  • VR – Reverse Voltage – Tensão Reversa
  • P – Power Dissipation – Dissipação de Potência

O lado de saída, neste caso, é um transistor, ou melhor, foto transistor o que significa que a base será excita pela luz proveniente do diodo emissor de luz e os parâmetros são:

  • VCEO – Collector-emiter Voltage – Tensão Coletor-emissor com base aberta (neste caso com o diodo desligado)
  • VCEO – Emiter-collector Voltage – Tensão máxima de coletor-emissor com base aberta (neste caso com diodo desligado)
  • IC – Collector current – Corrente de coletor
  • PC – Collector Power dissipation – Dissipação de potência de Collector.

Obs. Mais detalhes sobre parâmetros podem ser encontrados no capítulo 11 do meu e-book Eletrônica para Estudantes, Hobistas & Inventores

Outros parâmetros

Um parâmetro importante de um BJT (Transistor Bipolar) é o hfe que nos informa o ganho do transistor.

Nos dispositivos óticos de acoplamento ou isolamento temos o CTR (Current Transfer Ratio) ou Relação de Transferência de corrente que é expressa em “por cento” (%) e é um parâmetro que precisa ser levado com muita atenção na hora da substituição.

Observe a tabela abaixo para o PC817.

PC817 - Diversos tipos

PC817 – Diversos tipos

Assim como nos transistores cujo hfe pode mudar de faixa para o mesmo tipo dependendo do “númerozinho” que o acompanha o mesmo acontece aqui.

Por exemplo, BC337 e BC338 não é tudo igual. Dá só uma olhada na tabela abaixo (lembre-se “cada macaco no seu galho”).

Diversos "tipos" de BC337

Diversos “tipos” de BC337

E é sempre bom lembrar que colocar uma peça com características diferentes da peça original pode transformar um defeito simples em algo catastrófico.

Depois desta rápida digressão para falar de hfe de transistor (que pode ser útil pra muita gente) voltemos aos nossos fotos.

Usar um foto acoplador (ou isolador) com um CTR fora da faixa de valores do original pode comprometer a transferência do sinal de erro colhido do secundário da fonte e enviado ao primário para manter a fonte estabilizada o que causaria queda de tensão dependendo da demanda de corrente da carga.

Você já havia pensado nisso?

Espero ter colocado algumas dúvidas na sua cabeça porque no momento que descobrimos o problema começamos a nos preocupar em procurar a solução.

Nestes de tempos em que temos milhares de fabricantes de componentes eletrônicos cada um colocando a nomenclatura que “lhes dá na cabeça” o técnico tem que ficar mais atento e não basta ser trocador de peça tem que saber o que está trocando.

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Paulo Brites

Técnico em eletrônica formado em 1968 pela Escola Técnica de Ciências Eletrônicas, professor de matemática formado pela UFF/CEDERJ com especialização em física. Atualmente aposentado atuando como técnico free lance em restauração de aparelhos antigos, escrevendo e-books e artigos técnicos e dando aula particular de matemática e física.

Website: http://paulobrites.com.br

18 Comentários

  1. Jaime Faria da Silva

    Valeu irmao que Deus sempre te ilumine,estudei eletronica e eletrica no SENAI sou apaixonado por essa profisao…tempo da transiçao valvula transistor kkk

    • Paulo Brites

      Valeu Jaime, eu sou do tempo em que o transistor ainda estava “em gestação” nos laboratórios lá nos “esteites”.
      Grande abraço, obrigado por participar
      Ah! Tem mais de 300 artigos no blog.

  2. Valdireverson Oliveira

    Sr, Paulo BritEs , Sou mais um aluno de eletrônica do antigo IUB e ter pessoas como o senhor no mundo da internet nos faz pensar em seguir em frente, pois as pessoas que sabem um pouco de eletrônica tem medo ainda de ensinar o que sabe, pelo medo de perder seu lugar no mercado. Meus Parabéns. Meu hoby é eletrônica de fins de semana rsrsrs.

    • Paulo Brites

      Caro Valviderson
      Eu sempre digo que “caixões não têm gaveta”, ou seja, não levaremos nada para outro mundo.
      Então, é melhor transferir em vida o que pude.
      Eu descofio que tem medo de ensinar o que sabe é porque, no fundo, não sabe.
      A poetisa goiana Cora Coralina dizia “feliz aquele que aprende o que ensina”. Fico com ela.

  3. EDMUNDO RODRIGUES

    PARABENS PELAS EXPLICAÇOES FORAM MUITO UTEIS COM CERTEZA

    • Paulo Brites

      Obrigado Edmundo, tem muita fake news por aí rsrsrsrs

  4. Weslly luiz Antonio Masculino Nascimento

    Parabéns, muito interessante a forma que você abordou o assunto tirou algumas dúvidas que eu tinha.

    • Paulo Brites

      Que bom Wesley que lhe esclareceu

  5. Alexandre Magno Cardoso

    Muito interessante as informações, e veio justo na hora que mais preciso pois estou projetando um isolador de audio usando exatamente o PIC817, muito obrigado.

    • Paulo Brites

      Ótimo Alexandre boa sorte no seu projeto Depois conta se deu tudo certo

  6. Francisco Leandro Ferreira Braga

    Muito útil esse post. Muitíssimo obrigado!

    • Paulo Brites

      Valeu Francisco Você poderia votar nas estrelinhas amarelas que aparecem no final do post? Isso ajudar a aumentar a divulgação.Obrigado

  7. ALVACIR JOAO FERREIRA

    Muito obrigado pela dedicação. Parabéns!

    • Paulo Brites

      Obrigado pela participação

  8. Xande

    Os foto acopladores foram a bola da vez e caíram na malha fina de Paulo Brites. Ótimo post.

  9. Dailson Gonçalves Paixão

    Muito elucidativo o seu post Paulo. Muito obrigado. Se no mundo tivesse mais pessoas como você que passa pra frente o que sabe, com certeza seria melhor. Se na época que comecei com eletrônica tivesse internet e alguém como você pra ensinar, com certeza hoje eu seria um expert no assunto. Na época. desistir de pedir ajuda e tive que descobrir o pouco que sei sozinho pois todos os técnicos que procurava não queriam passar o que sabiam pra outros. Obrigado e abraço.

    • Paulo Brites

      Sigo os ensinamentos de Cora Coralina “Feliz é aquele que ensina o que sabe e aprende o que ensina”.

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