Dia dos professores, comemorar o quê?
Não curto datas comemorativas.
Sejam elas para “lembrar” do santo nosso de cada dia, “heróis e patriotas”, pais, mães, crianças, enfim seja lá o que quiserem “homenagear” por um dia e esquecer nos outros 364.
Para mim todos os dias são dias de todos aqueles que contribuem que alguma forma para a sociedade com suas habilidades e seu potencial, da mais simples a mais complexa atividade.
Com os santos não me meto, a fé de cada um é sagrada.
Por que não se cria o dia dos “sem oportunidade”, dos desalentados, dos que morreram pela bala achada, que tinha endereço certo e chamam de perdida, dos que foram abandonados pela sociedade que só reclama dos políticos?
A reposta é simples, não vai dar voto nem vai vender nada.
Poucos (ou talvez ninguém) irão ao shopping na Black Friday comprar presente para dar a um morador de rua se criarem o Homeless’s Day!
Mas, vamos lá, o Dia dos Professores está aí então, me dá um bom motivo para escrever sobre um tema que sempre dá votos – a Educação – desde que o Brasil é dos “brasileiros”.
E não dá para falar em Educação sem falar em professores. O criador e a criatura estão inexoravelmente interligados e fica até difícil descobrir quem alimenta quem.
Mas comemorar o quê no dia “deles”, os professores, principalmente num momento em que a Educação e a Cultura neste país vêm sendo vilipendiadas pelos que comandam o “Estado Democrático de Direito” nos seus mais altos cargos.
Hoje o mote para destruir a única possibilidade de as pessoas construírem o pensamento crítico, que é através da Educação, é a falta de dinheiro que só virá depois da reforma (ou melhor do fim) da previdência pública para os mais pobres (que será substituída pela previdência privada, para quem puder pagar por ela).
Não custa lembrar ou esclarecer para os mais novinhos que o mote para destruir a Educação e junto com ela seus “operários”, os professores, já foi o comunismo.
Isto foi lá pelos idos (já foi tarde) de 64 (aqui e nos nossos vizinhos latinos).
E, lembrando Chico Buarque, tão atual – “apesar de você amanhã há de ser outro dia”.
Desde sempre aqui na terrinha a Educação foi reservada para os mais afortunados e que podiam pagar pelas aulas dos professores “gabaritados” nas “melhores” escolas, quase sempre católicas, diga-se de passagem.
Para mim professor é mais que uma profissão, é uma paixão.
Aliás, nada funcionará se não colocarmos paixão no que fizermos.
Entretanto, a responsabilidade de quem se dedica ou escolhe carregar em suas mãos a lanterna que ilumina o caminho dos que o seguem é muito grande.
Educar não é “ensinar a ler e fazer continhas” como disse o atual “dono” do MEC.
Educação vai muito além de preparar um robô-humano para dar lucro às empresas.
Educar não é instruir, não é domesticar, é propiciar os meios para formação de um cidadão consciente e capaz de pensar com a mente aberta.
O papel da família na Educação é, sem dúvida, fundamental se olhado num contexto mais amplo e não como o substituto da escolarização formal que passou a ser uma exigência da sociedade moderna.
Mas esqueçamos o FEBEAPA (Festival de Besteiras que Assola o País – Sérgio Porto) das falas das nossas “otoridades” e voltemos para o Dia dos Professores.
Se o “professor” ficar só reclamando dos governos, dos salários, dos alunos, ele vai esquecer o mais importante da missão, que deveria ter como meta inabalável ajudar as pessoas a pensarem.
E reparem que eu não disse “ensinar” porque ninguém ensina nada a ninguém (senhor anti Ministro da Educação).
As pessoas aprendem se quiserem aprender, se forem motivadas para tal, principalmente, se estiverem com a barriga cheia e sem tiroteios sobre suas cabeças.
Mas, se você é um destes, que ao ser encontrado na rua por um ex-aluno de cinquenta anos passados é lembrado por ele que lhe dá um abraço de gratidão, você tem muito o que comemorar.
Você é efetivamente um Professor.
Você deixou a sua marca por onde passou.
Então, você é um apaixonado pela missão de ser Professor (com p maiúsculo) e tem SIM, o que comemorar, mesmo que seja mais jovem, mas seja capaz de promover a curiosidade e gosto pela descoberta nos seus alunos.
Sempre repito que há três coisas na vida que se optarmos por ser teremos que fazer bem feito – ser mãe, ser pai e ser professor. Aliás, a última engloba, de alguma maneiram, as duas primeiras.
Esqueça o salário ruim. O que recebemos para executar nossa “missão” na Terra, seja ela qual for, nem sempre será diretamente proporcional ao que iremos receber para pagar as nossas contas.
Não reclame dos alunos “ruins”, eles não são os únicos culpados e sim, as principais vítimas.
Vítimas de uma sociedade “bem-educada” (muitas vezes moldada pelos discursos das mídias) que faz passeatas pedindo “mais segurança”, mas raramente faz passeatas pedindo mais respeito pela Educação e a Cultura e para seus “operários” – os professores.
Antes de terminar, peço licença a Confúcio para deixar com suas palavras minha saudação pelo dia dos Professores e de nós todos, mães, pais, porque afinal, de um jeito ou de outro, somos todos professores.
Se seu plano é para um ano, plante arroz.
Se seu plano é para 10 anos, plante árvores.
Se seu plano é para 100 anos, eduque as crianças.
Meus votos de felicidade, não apenas por um dia, mas pelas 24 horas dos 365 dias do ano àqueles que de alguma forma, dentro ou fora da sala de aula, ajudam ou ajudaram a iluminar nossas vidas e fizeram mais do que nos ensinar a juntar as letras do alfabeto e decorar a tabuada, mas a “viver e não ter vergonha de ser feliz ….a beleza de ser
um eterno aprendiz”, como nos “ensinou” Gonzaguinha.
Estes sim, podemos chamar de mestres e não apenas de professores e que ao “ensinar” souberam aprender com seus alunos como disse um dia Cora Coralina.
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