Multímetro SH-105 com um resistor queimado

Recentemente um leitor me pediu ajuda para reparar um multímetro SH-105 com um resistor queimado.

Ele havia lido um post meu sobre a solução para a bateria de 22,5V e nele eu coloquei uma foto da placa com os resistores do SH-105 mas, apenas da parte “visível” como se vê na fig.1.

Fig. 1 – Parte externa da placa do SH-105

A questão é que temos também resistores do outro lado placa.

Ele me pedia, educadamente (e aí costumo tentar atender), que lhe fornecesse uma foto da parte de baixo (“invisível) pois, no caso dele, o multímetro SH-105, o resistor queimado estava daquele lado.

Eu não poderia deixar que uma joia rara, como um multímetro SH-105, fosse abandonada à sucata por causa de um simples resistor queimado.

Fazia tempo que eu não utilizava o meu e ao abrir para fazer a foto lembrei por quê.

Uma das pilhas de 1,5V havia vazado lá dentro produzindo algumas corrosões e seria necessária uma restauração.  Sem tempo para cuidar disso, deixei o de lado, para “um dia” cuidar disso.

Como tenho outros analógicos e atualmente quase sempre apenas os utilizo para as aulas do Clube Apenda Eletrônica com Paulo Brites deixe a tarefa para ser resolvida “um dia”.

Pois bem, este dia chegou com o pedido do leitor para ajudá-lo com a foto parte de baixo da placa do multímetro SH-105 com o resistor queimado.

Fiz a foto que está na fig.2 e disse-lhe que é hora dele me ajudar também pois, eu acabara descobrir que o meu multímetro SH-105 também estava com um resistor queimado e eu nem lembrava mais disso.

Fig. 2 – Parte de baixo da placa do SH-105

A resposta dele veio rápida e dizia: – o que resistor queimado no meu multímetro SH-105 também é esse!

Ironia do destino ou hora de colocar a cabeça para funcionar?

Ainda bem que eu tinha esquema elétrico

Este é um equipamento daqueles bons tempos em que os fabricantes eram comprometidos com o consumidor e forneciam os esquemas e, às vezes, até manuais com descrição de funcionamento dos circuitos.

Eu tenho o esquema guardadinho dentro da caixa como se vê aqui na fig.3.

Fig.3 – Esquema elétrico do SH-105

O mapa do tesouro

A questão é que não tínhamos a identificação dos resistores nem no esquema nem na placa o que dificultava um pouquinho descobrir o valor da resistência do tal resistor queimado.

Parafraseando o ditado popular, “para quem sabe ler um pingo é letra” eu digo que “para quem é técnico um esquema é o mapa do tesouro” e seguindo “as trilhas”, literalmente, chegaremos ao resistor queimado.

Voltemos à fig. 2 onde temos o lado da placa onde está o tal resistor queimado.

Olhando a placa, ora de um lado ora do outro, chega-se à conclusão de que o lado direito do resistor queimado está ligado aos resistores de 8k5 e 240k próximos a ele e ao resistor de 240k do outro lado da placa e este vai ligado ao potenciômetro de ajuste de zero. Acompanhe os desenhos em amarelo na fig.2.

Bingo!

Olhado o esquema da fig.3 fica fácil concluir que o resistor queimado é o que está no destaque em vermelho e seu valor é 82k ou 92k (há uma falha na impressão).

Entretanto, este valor não é crítico porque ele está em série com o potenciômetro de 50k de ajuste do zero da escala ôhmica.

Coloquei um resistor de 82k e resolvi o problema. Simples assim!

Restou uma dúvida

Defendo a ideia de que ao concluir um reparo e colocar o equipamento para funcionar novamente devemos tentar descobrir qual foi a causa que levou à falha.

Teria sido “morte morrida” ou “morte matada”?

Se não identificarmos a causa corremos o risco de a mesma falha voltar a ocorrer em pouco tempo e nossa “reputação” de técnico ficará comprometida.

A “morte morrida” pode ocorrer basicamente por algumas razões principais:

  • Erro de projeto
  • Componente de qualidade duvidosa mesmo sendo “original”
  • Problemas de montagem durante a produção
  • Obsolescência programada

Já a “morte matada” é provocada por uma causa externa como um pico de tensão na rede elétrica, raios, mal uso etc.

No caso deste multímetro SH-105 com um resistor queimado estava faz do que óbvio que fora mal uso, ou seja, uma “distração” do técnico que tentou fazer uma medida, provavelmente, de tensão ou corrente usando a escala ôhmica.

O que ainda é um mistério para mim é porque estando o resistor em série com o potenciômetro de ajuste do zero da escala ôhmica ele não sofreu nada e sim, apenas o resistor.

Se alguém tiver uma resposta coloca nos comentários e prometo continuar pensando no assunto.

O vídeo a seguir vai ajudar a entender como descobri o resistor queimado no SH-105 do leitor, no meu e quiçá de outros tantos técnicos que estejam com instrumento abandonado numa gaveta.

Uma observação final

Os multímetros SH-105 e AF-105 têm ambos a mesma aparência externa, mas os esquemas elétricos são diferentes.

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Paulo Brites

Técnico em eletrônica formado em 1968 pela Escola Técnica de Ciências Eletrônicas, professor de matemática formado pela UFF/CEDERJ com especialização em física. Atualmente aposentado atuando como técnico free lance em restauração de aparelhos antigos, escrevendo e-books e artigos técnicos e dando aula particular de matemática e física.

Website: http://paulobrites.com.br

18 Comentários

  1. Daniel Pablo Sheng

    92K, ao ampliar o PDF com o esquema, dá para ver direito.

    • Paulo Brites

      Não entendi o comentário!!!

  2. Lúcio Guimarães

    professor Paulo Brites boa noites. quanta a sua duvida sobre o resistor que queimou ou abriu ou alterou enfim, a minha lógica é que o pau sempre quebra no lugar mais fraco. se a tensão passou por ele resistor e por o potenciometro de 50k,
    não estou contando com os valores 82 , 92, 50k, que é bem menos o outro é mais e outros é bem menos etc.. a minha lógica de não ter danificado o potenciometro é que se for analizar o resistor for de 1/8 ou 1/4 walts, acredito eu que o potenciometro
    não fez nem cosquinha. um abraço

    • Paulo Brites

      Caro Lúcio
      Em princípio sua “lógica” faz sentido. É uma maneira interessante de pensar no problema.
      Valeu pela contribuição.

  3. ANTONIO HENRIQUE GRIZOTTI

    Professor, suas explicações são sempre repletas de informação valiosa. Não apenas diz como fazer mas mostra o raciocínio por trás da dica.
    Depois do curso de monitores CRT (faz tempo isso heim!!!) que fiz com o Sr. na Marechal Floriano percebi que muitas das vezes pensava como um trocador de peças e não como técnico por formação.
    Até hoje, em tudo que faço, está inspirado pela sua didática de raciocinar o defeito e chegar a causa por análise e não apenas sair testando e trocando peças. Não há tando $$$$ para isso.

    Aproveito professor, já que estamos falando de multímetros analógicos. Fale um pouco sobre a função OUTPUT que existe em alguns multímetros analólgicos, para que serve e como usar de forma correta. Dos amigos de proffisão que eu tenho, apenas dois sabiam como e para que usar essa função nos multímetros.
    Mais uma vez meu muito obrigado.

    • Paulo Brites

      Marechal Floriano! Saudades! A rua virou um deserto.
      Vou escrever sobre isso do OUTPUT, estou me libertando de outras atribuições.
      Pedidos de leitores (sensatos) me alegram.

  4. ANTONIO HENRIQUE GRIZOTTI

    Parabéns professor.

    • Paulo Brites

      Obrigado e até sempre!

  5. ANTONIO HENRIQUE GRIZOTTI

    Prezado professor, sempre com uma didática incrível. Não só dando o pulo do gato mas mostrando como o gato pulou e porquê pulou.
    Toda publicação sua é repleta de conheciento e fundamento. dá gosto de ler e apreder.
    Aproveito para pedir um favor professor. Explica pro pessoal a função “OUTPUT” que existe em alguns multímetros analógicos. Perguntei a vários amigos de proffisão e só dois deles sabiam para que serve essa escala nos multímetros.
    Um grande abraço e vacina já!!!!!!

    • Paulo Brites

      Saber como porquê o gato pulou fica difícil, mas mostrar como pulou até é possível rsrsrs.
      I love cats!

  6. cicero alvares da silva

    ola professor tudo bem espero que sim essa e mais uma otima dica para os tecnicos que as vezes estao com um desses parado por causa de um simples resistor muito bom professor quero lembrar que eu me devirto muito lendo seus artigos com o seu bom humor de sempre um abraço e ate sempre.

    • Paulo Brites

      É isso, eletrônica e diversão, porque nem só de pão vive o ser humano.
      Breve vou mostrar como eliminar as pilhas e a bateria deste instrumento.
      Abraços.

  7. Edson Marigo

    Olá boa noite professor Paulo!

    Um dia li um artigo seu e achei muito interessante os detalhes na descrição dos acontecimentos .
    Daí lendo esse sobre seu multimetro lembrei de um alicate amperimetro meu, que não queimou totalmente, mas ficou com a leitura errada depois que fiz um testes para consertar um microondas.
    A pergunta é: será que tem conserto? o modelo dele e Brasfort 8559.

    • Paulo Brites

      Caro Edson
      Difícil responder sem ver até porque não sei o que você teria feito errado. Não conheço esta marca. A sugestão é, abra e dê una olhas, Às vezes o “coisa ruim” não tão feio como dizem!

      • Lino

        Bom dia, eu li a matéria e gostei demais, eu não sou técnico em eletrônica, eu sou eletricista de manutenção, mas conheço um pouco de eletrônica.
        Muito obrigado!

        • Paulo Brites

          Que bom Lino que gostou.
          Há bastante tempo que a eletrônica já “invadiu a praia” dos eletricistas.

        • Ronald Colman

          Olá professor, tenho a impressão que o resistor, desenhado em amarelo, não é este que está grifado no esquema, parece ser mais aquele resistor no ponto de RX1 por um lado e pelo outro lado aos resistores 9,5K(RX100), 240K(RX1K), 6M(RX10K e 92K.(o grifado que vai ao potenciômetro), a conexão com o resistor de 6M acontece por uma trilha que passa por baixo dele, nesse caso ele é de 83ohms, pelo esquema. Por favor, sê uma olhada na minha suspeita, caso tenha tempo. Obrigado por compartilhar.

          • Paulo Brites

            Olá Ronald

            Vou rever este artigo.

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