A fonte do Notebook que estava “boa”, mas não carregava a bateria.
Dias desses veio parar em minhas mãos uma fonte de notebook que, segundo o dono, “acendia a luzinha”, mas não carregava a bateria.
Logo observei que ela já havia passado por “outras mãos”, pois estas fontes fazem parte do projeto da economia capitalista “vamos destruir o planeta o mais rápido possível” uma vez que são fabricadas de modo a dificultar a abrir para fazer manutenção sendo necessário cortar o gabinete de plástico com uma serra.
Perguntei ao proprietário o que tinha acontecido ele me respondeu que o “cunhado” dele (é sempre o cunhado que faz estas coisas) tinha levado a uma oficina, o “cara” tinha cobrado o conserto, mas a fonte continuava sem carregar a bateria.
Argumentei que poderia ser defeito da bateria, ao que ele respondeu “já testei a bateria em outro notebook (deve ser o do cunhado) e está boa”.
Nesta altura percebi que não valia a pena perguntar quem tinha sido o “técnico” que fizera o “conserto” (e cobrara), pois já desconfiei quem deveria ser (e você, aposta em quem?).
Resolvi então que era hora de ligar a bichinha (fonte) na tomada e pegar o multímetro.
Já reparei muitas destas fontes cujo principal “defeito” chama-se mau uso, ou seja, o fio partido junto ao corpo da fonte ou próximo ao plug.
As pessoas têm a mania de enrolar o fio no corpo do aparelho sem perceberem que isto acaba por quebrar o mesmo por dentro. Basta usar um pouco dois neurônios e “pensar” que se deixar uma folguinha quando enrolar o fio evitará que o mesmo se parta internamente por fadiga mecânica.
Em alguns casos encontramos um pequeno choque que funciona como filtro de linha com uma “perninha” do fio partido bem próximo da PCI.
Entretanto, nesta situação a “luzinha” não acende, já que a fonte não recebe tensão da rede elétrica, logo não poderia ser este o caso.
O primeiro passo seria então, medir a tensão na ponta do plug, já que a “luzinha” estava acendendo indicando o que a fonte estava aparentemente funcionando.
Para minha surpresa lá estavam os 20V e mesmo sacudindo e esticando fio das formas mais violentas possíveis, para verificar se não estava partido, a tensão na ponta do plug continuava firme, o que eliminava a hipótese de fio partido.
Hora de pensar
Não custa lembrar que o fato de uma fonte estar fornecendo a tensão nominal ou até um pouco acima dela não significa que ela esteja funcionando perfeitamente.
É preciso submeter a fonte a uma carga para verificar se ela continua a fornecer a tensão nominal.
Verificando a etiqueta da fonte vi que indicava 20V @ 3,25A (o arroba aqui significa “at” ou em português “em”).
A partir destes dados podemos calcular, pela Lei de Ohm, que a resistência de carga deveria ser 20/3,256Ω e a potência 20×3,25=65W.
Caramba! Onde arranjar um resistor com esta dissipação para servir de carga?
Diz o ditado que “quem guarda tem” assim, recorrendo as minhas sucatas, encontrei um “pré-histórico” de 10Ω que pelo tamanho deveria suportar o tranco.
Montei uma gambiarra com o resistor servindo de carga e o voltímetro “pendurado” junto e liguei a “maldita” na tomada.
Cadê os 20V que deveriam estar aqui? Isso mesmo, o gato comeu.
O diagnóstico estava feito. A fonte fornecia tensão, mas não tinha capacidade de fornecer corrente quando submetida à carga.
O reparo
Até aqui já foram cumpridas as duas primeiras fases de qualquer reparo: identificar o sintoma e fazer o diagnóstico.
O próximo é encontrar o “remédio que cura” (antibiótico não vale).
Diversas poderiam ser as causas, mas como eu sempre pense que elas são mais simples do que tendemos a imaginar fui logo no capacitor de filtro da etapa primária de retificação.
Estatisticamente eles não têm sido os principais vilões das fontes chaveadas como nos velhos tempos do “Tesla” vermelhinho 32+32/165V (o melhor amigo do técnico!) mas, vai que …
Retirei-o da fonte tendo o cuidado de descarregá-lo antes com um resistor de 1kΩ em paralelo (nada de “dar tiros” com chave de fenda ou alicate em fontes chaveadas pra não arranjar encrencas).
No tempo do “Tesla” e companhia medíamos, ou melhor, avaliávamos a capacitância pela carga e descarga com um analógico na escala de resistência.
Hoje qualquer oficina ou técnico tem (ou deveria ter) um capacímetro de plantão para estas horas.
Não deu outra, cadê os 120uF? Somente 16uF e olhe lá (neste caso o capacitor não estava “grávido”).
Tirando conclusões
Sempre que concluímos, de forma bem sucedida, um reparo devemos cultivar o (bom) hábito de refletir sobre as causas que levaram a ocorrer a falha.
É isso que diferencia o técnico do trocador de peças.
O papel do capacitor de filtro é “transformar” a tensão pulsante, no caso de onda completa, na saída da ponte retificadora em uma tensão contínua.
Se não colocarmos carga consumindo corrente qualquer capacitor vai fazer isso, uma vez que ele vai se carregar no pico e se manter carregado.
Entretanto, quando temos um consumo de corrente precisamos ter um compromisso entre a capacitância e o consumo de modo que a tensão DC não caia demasiado o que fará aparecer uma tensão alternada na carga conhecida como ripple.
Era isto que estava acontecendo. O consumo produzido pelo chaveamento é relativamente pequeno e não afetava o funcionamento da fonte se estivesse sem carga.
Entretanto, ao colocar a carga, que no caso do notebook era a corrente de carga da bateria, a tensão de ripple subia demasiadamente e a fonte parava de oscilar.
O “consertador” inicial deve ter medido a saída da fonte sem carga e achou que estava tudo bem. Faturou o dele e mandou pra frente.
Antes de entregar um equipamento reparado temos que ter certeza que está realmente funcionando.
Se não aparecer defeito o melhor é não inventar historinha, cobrar e depois ficar com cara de Pinóquio.
Até sempre.
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