A Lei da Gravidade e o Computador que reiniciava de repente
A Lei da Gravidade e o Computador que reiniciava de repente
Você deve estar achando estranho o título deste artigo e se perguntando qual a relação de uma coisa com a outra.
Pois bem, antes de Newton, Aristóteles, lá pelo século IV a.C, afirmava que as coisas caiam porque o lugar natural delas é no chão.
Foram precisos muitos séculos se passarem para Galileu desconfiar que não era bem isso, até chegarmos a 1687 e Newton, “o gênio da maçã”, mostrar que as coisas caem por conta de uma força “invisível” que as puxam para o centro da Terra a qual denominou de força da gravidade e enunciar a Lei da Gravidade.
Todo este blá-blá-blá tem dois objetivos: aumentar (ou relembrar) sua cultura geral e despertar sua curiosidade para ler o artigo até o fim. Se desistir aqui, vai morrer sem saber.
Certo dia….
Faz pouco mais de um mês que meu filho começou a reclamar que o computador dele estava reiniciando aleatoriamente.
Este tipo de falha, tão comum nos PCs, pode ter varias causas que desde problemas nos pentes de memória, vírus, fonte de alimentação e, desgraçadamente, culminar na placa mãe ou no processador.
Minha filosofia, como técnico, sempre foi pensar que a causa de um defeito, na maioria das vezes, é bem simples. Nós é que temos o (mal) hábito de complicar.
Partindo deste princípio, comecei pelo mais óbvio e fácil de mexer: os dois pentes de memória.
Retirei o computador do “buraco” na mesa onde ele fica e deitei-o no chão para não ter muito trabalho.
Em seguida saquei os dois pentes de memória e limpei-os com algodão embebido em limpa contatos. Apliquei também um spray de LC-150 nos slots das memórias.
Não gosto de passar borracha nos terminais das memórias, como quase todo mundo faz, pois a borracha é abrasiva e remove a tênue camada de ouro que cobre os terminais de contato.
Deixei o computador deitado no chão caso a “mandinga” não tivesse dado certo e o teimoso PC continuasse me irritando com suas reiniciações aleatórias e me obrigasse a mexer nele outra vez.
Aproveitei o momento para dar uma olhada na placa mãe e ver se não havia eletrolíticos “grávidos” (com a parte superior estufada). Este é um defeito (programado) dos eletrolíticos e que começou a surgir lá pelos anos 90 e causa muitos transtornos. Aparentemente todos os eletrolíticos da placa mãe não estavam “grávidos”. Menos mal.
Como disse, o computador ficou deitado no chão e meu filho usou-o por algumas horas sem reclamar.
Na manha seguinte, retornei o gabinete do PC para o seu “buraco” na posição vertical e saí para o batente.
Ao chegar a casa à noite, ele já me recebeu dizendo: – o computador continua doido.
Pensei eu, e isso é lá uma maneira de dar boa noite a um pai que chega em casa cansado depois de um dia de trabalho?
Sem que ele percebesse a minha sutileza, respondi-lhe: – boa noite, amanha, eu vejo isso.
No dia seguinte parti para uma inspeção da fonte onde também poderia haver eletrolíticos “grávidos” que causam o mesmo tipo de comportamento no PC.
Aproveite também para trocar os pentes de memória pelas de outro PC. Pois, vai que …. fossem elas.
Desta vez, porém não quis ficar trabalhando naquela posição “indecorosa” (de quatro) com o computador deitado no chão e coloquei-o deitado sobre a minha mesa de trabalho.
Neste momento, numa posição menos comprometedora e com o campo de visão melhorado percebi que embora na fonte não tivesse nenhum eletrolítico em “estado interessante” (como se dizia antigamente) o mesmo não acontecia na placa de vídeo.
É isso aí, pensei eu. São estes “barrigudinhos” na placa de vídeo que estão provocando a encrenca.
Rerirei a placa de vídeo (externa) e conectei o monitor na placa de vídeo on board.
Liguei o bichinho e trabalhei nele algumas horas numa boa.
Aqui cabe uma observação, as memórias do PC do computador encrenqueiro também trabalharam bem em outro computador o que descartava a possibilidade de defeito nelas.
Logo tudo leva a crer que o problema estava na placa de vídeo off board com os eletrolíticos “embuchados”, como dizem lá no nordeste.
Dia seguinte, feliz da vida por achar que tinha resolvido o problema e sem gastar nenhum dinheiro, retornei o dito cujo para sua posição original, ou seja, “em pé” no “buraco” da mesa.
Entretanto, novamente alguém consegue adivinhar o que aconteceu?
Pois é. Isso mesmo o problema continuou a existir.
Embora não acredite em bruxas eu tenho certeza que elas existem (como diz um provérbio espanhol) e, neste momento, eu já estava a ponto de chamar um exorcista (e dos bons).
Antes, porém enquanto procurava o telefone de alguma vidente que soubesse jogar búzios, Tarô, horóscopo chinês e outras “tecnologias” do gênero, resolvi colocar o PC na minha mesa de trabalho e ficar usando.
Neste momento acho que minhas preces foram atendidas e eu tive a “intuição” de colocar o computador na sua posição usual, ou seja, em pé.
Com a tampa aberta comecei a navegar na Internet e logo após alguns minutos a tela apagou e neste instante percebi que a ventoinha da CPU começava a parar de girar.
Ah! Então era isso? A ventoinha com defeito ou alguma coisa que a fazia desligar e essa “alguma coisa” poderia estar na placa mãe.
Agora sim, a Lei da Gravidade.
Você percebeu que quando o computador estava deitado sempre funcionava?
Exatamente aí e que estava a chave do “mistério”.
Deitado funcionava, em pé não. Por que?
Pois bem, quando fui tirar o conjunto ventoinha/dissipador para inspecioná-lo descobri que a trava que prende este conjunto para mantê-lo pressionado sobre o processador estava quebrada e, portanto ao colocá-lo na posição vertical o conjunto se afastava do processador que, por conseguinte aquecia e desligava.
Minutos depois após ter esfriado religava.
E é aqui que entra a Lei da Gravidade. Com o computador deitado a força da gravidade “empurrava” o conjunto ventoinha/dissipador para baixo melhorando a dissipação de calor no processador.
Ainda bem que não encontrei o telefone de nenhuma vidente disponível. Estavam todas ocupadas “trazendo o amor de alguém de volta em três dias”.
Essa gente cobra mais caro pela “assessoria técnica” que um técnico de eletrônica ou de informática. Também pudera, são vários anos de estudos.
Moral da história
Eu comecei o post dizendo que a maioria dos defeitos é simples, a gente é que complica.
Confesso que desta vez “dei mole”. Não fui um bom observador como sempre recomendo.
Espero que o meu vacilo sirva de lição para outras pessoas
No fim tudo deu certo e eu não gastei nenhum tostão (essa é a melhor parte).
Usei a criatividade e minha habilidade manual para recuperar a peça quebrada como pode ser visto na figura ou teria que comprar outro conjunto o que seri muito difícil por se tratar de uma placa de mais de cinco anos de fabricação.
Preço do serviço: – se fosse me pagar eu me cobraria pelo menos umas 80 pratas.
Convenhamos que bem menos que o cobrado por um “técnico” de informática após trocar a fonte, as memórias, o processador e a placa mãe. Também depois de trocar tudo com certeza iria funcionar.
Ah! Já ia me esquecendo, valeu a pena eu ter estudado física!
Até sempre.
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