Cada Macaco no Seu Galho: os fusíveis
Cada Macaco no Seu Galho: os fusíveis
Com o titulo Cada Macaco no Seu Galho eu vou escrever uma série de artigos para falar das diferenças de características e especificações de alguns componentes utilizados nos circuitos eletrônicos dando ênfase ao que é preciso estar atento ao adquirir estes componentes para substituição.
O ideal seria poder adquirir o componente a ser substituído do próprio fabricante do aparelho, entretanto isto é, na maioria das vezes, totalmente impossível e o jeito é apelar para o “genérico” chinês nas lojas de componentes eletrônicos.
Mas, fique atento porque fusíveis, capacitores, diodos e molho para macarrão não é “tudo igual”!
O primeiro componente escolhido para esta “mini série” foi o fusível, um “ser” aparentemente simples, mas que merece um pouco mais de atenção na hora da substituição e que não deve se prender apenas no “valor da corrente” como, geralmente, ocorre.
Certamente você já reparou que aparecem diferentes tipos de invólucros de fusíveis nos equipamentos eletrônicos como vidro e cerâmico só para citar os mais comuns, por enquanto.
De todos eles o mais comum mesmo é, sem dúvida, o de corpo de vidro sempre presente na entrada da rede elétrica de televisores, equipamentos de som, fontes de PC, etc.
E nos fornos de micro-ondas? Por que usam aquele “fusível estranho”? Continue lendo e saberá por quê.
Fusíveis “de vidro”
Eles são encontrados em dois tamanhos conhecidos no comércio brasileiro como “pequeno (5x20mm) ou grande (6x30mm)”, entretanto não basta saber o tamanho para comprar um fusível, existem algumas características e especificações que precisam ser levadas em conta quando precisamos substituí-los.
Se você pensou na corrente que o fusível deve suportar, sem dúvida, ela importante, mas isto só não basta.
Você já reparou que além da corrente estampada na parte metálica do fusível temos também um valor de tensão que pode ser 125V ou 250V?
Isto acontece porque não basta que o fio do fusível se rompa quando a corrente que passa por ele estive acima do valor especificado, é preciso garantir que não chega tensão no equipamento sobre proteção pela formação de um arco elétrico.
Em outras palavras, enquanto o fusível não estiver rompido a tensão não importa, mas no momento em que ele se rompe é que a especificação da tensão passa a ser relevante.
Lembremos que o fusível não interrompe a passagem de corrente “imediatamente”, pois é preciso que a corrente seja suficientemente alta para produzir calor necessário para fundir o fio.
Se o fusível original era, por exemplo, 125V/1A podemos substituí-lo por um com especificação 250v/1A, mas nunca ao contrário.
Fusíveis cerâmicos
Estes tipos de fusíveis são encontrados, principalmente, em fornos de micro-ondas e uma pergunta que sempre surge é se podem ser substituídos por fusíveis de vidro mantendo-se a mesma especificação de tensão e corrente.
Poder pode e o forno até funcionar, mas não se deve fazê-lo.
O interior do tubo cerâmico costuma ser preenchido com material não inflamável (areia) para evitar explosão caso o ocorra a passagem de corrente muito alta no caso de curto circuito de algum componente do circuito.
É comum encontrarmos fusíveis de vidro total ou parcialmente carbonizados como vemos na figura o que denota que uma corrente muita alta circulou por ele, às vezes, produzindo até danos na PCI.
Lembre-se que fusíveis cerâmicos são mais caros que os comuns de vidro e nenhum fabricante sério vai querer gastar um centavo a mais se não for estritamente necessário.
Um parâmetro importante dos fusíveis é o HRC que significa High Rupture Capacity (alta capacidade de ruptura) e deve sempre ser levado em consideração por questão de segurança do usuário.
Estes fusíveis são utilizados em multímetros de boa qualidade, por exemplo.
Usualmente os fusíveis HRC têm corpo cerâmico branco, entretanto isto não é uma regra geral, ou seja, nem todo fusível branco é HRC.
Fusíveis rápidos e lentos
Em inglês estes fusíveis são designados por Fast Blow ou Fast Acting e Slow Blow respectivamente.
Na medida do possível a preferência é pelo uso do tipo Fast Blow (rápidos) levando-se em conta as seguintes condições:
- Correntes bem definidas e dentro de limites conhecidos
- Não ocorrência de altas correntes de partida no circuito
Entretanto, se o circuito apresenta corrente de partida muito alta precisaremos utilizar fusíveis Slow Blow, pois caso contrário o fusível irá queimar repetitivamente sem que nenhum componente do circuito esteja necessariamente em curto.
Os fusíveis do tipo Slow Blow (lentos) costumam ter uma das aparências mostradas na figura ao lado.
MOV e PTC funcionam como fusíveis?
Comecemos falando dos PTC cuja sigla significa Coeficiente de Temperatura Positivo.
No meu e-book Eletrônica para Estudantes, Hobistas & Inventores (clique no link para conhecer) o capitulo 7 trata deste componente que é um tipo “especial” de resistor cuja resistência depende da temperatura.
Na figura abaixo temos dois tipos de PTC muito usado nos circuitos eletrônicos.
O da esquerda está sempre presente nos TVs de tubo para alimentar a bobina desmagnetizadora.
O “verdinho” da direita (às vezes também pretinho) pode ser encontrados nas fontes de PC dentre outros equipamentos.
Sua finalidade é reduzir a corrente de pico provocada pela carga dos capacitores do circuito retificador. Pode-se considera-lo como uma espécie de “fusível lento resetável”, porque ao término da corrente de carga ele retorna ao seu valor de baixa resistência da ordem de 10ohms.
Se ele funciona como um fusível, então ele deve ser ligado em série com a linha de alimentação.
Outro componente que pode ser encontrado na entrada das fontes são os MOV ou Varistores (clique no link para ler o post).
Este, porém não funciona como fusível e sim como uma proteção do equipamento contra surtos da rede elétrica (e não contra curto circuito de componentes do equipamento), portanto aparece ligado em paralelo com ela.
Fusíveis na linha de DC
Antigamente os fusíveis eram usados basicamente na entrada da rede elétrica.
Em alguns amplificadores ou receivers podíamos encontrá-los nas linhas de alimentação DC do estágio de potência, nas saídas para os alto-falantes e não mais que isto.
À medida que os equipamentos foram ficando mais complexos passamos a encontrar pequenos fusíveis em algumas derivações de linha DC e neste caso dois tipos em particular próprios para placa de circuito impresso como vemos na figura.
Fusíveis SMD
Se você pensou que não poderiam surgir mais “complicações” com relação a tipos de fusíveis se enganou, porque agora temos estes “protetores” de circuito também no formato SMD.
Antes deles já haviam surgido um tipo de fusível chamado de IC Protector no final dos anos 80 com o aspecto mostrado na figura ao lado.
Mas como os SMD é que realmente a coisa complica porque, até onde eu sei, parece não haver uma padronização na nomenclatura para especificação destes componentes.
Clicando AQUI você tem uma tabela com alguns códigos, mas como eu disse acima não tenho certeza se uma nomenclatura padronizada,
Vale chamar atenção que existem fusíveis SMD também do tipo Fast Acting (ação rápida).
E como resolver isto? Eu só vejo um jeito. Se você tiver o manual de serviço do equipamento e este contiver a lista de componente, verifique as especificações do componente.
Supondo que foi seu dia de sorte e você descobriu quem é quem, agora vem a segunda parte: conseguir comprá-lo. Esta, sem dúvida, tão ou mais difícil que a primeira e não adianta me “pedir socorro” porque eu não me meto nisto!
Conclusões
Diz o ditado que “quando há fumaça, há fogo” e, portanto se você encontrou um fusível aberto é bem provável que haja uma causa e simplesmente trocar o fusível pode ser desastroso e pior ainda colocar um tipo inadequado. Colocar um de corrente mais alta, como “algumas pessoas” costumam fazer nem pensar”!
Nem preciso lembrar que também existe fusível falsificado e de má qualidade.
Por exemplo, as partes metálicas de contato devem ser de latão, portanto se você encostar um imã ali e ficar “grudado” e sinal que é ferro e não latão. O lixo, neste caso é melhor lugar para este fusível e não o aparelho sob reparo.
Mas estes são os ossos do ofício da reparação quando levada a sério e infelizmente no Brasil pouco valorizada aliás como quase tudo que é feito com dedicação e honestidade aqui na terrinha.
O objetivo do post não foi resolver todos os problemas relacionados aos fusíveis, mas chamar a atenção para questões desconhecidas dos principiantes e, quem sabe, até dos veteranos.
Semana que vem falarei dos capacitores, começando pelos da entrada da linha de AC. Você acha que qualquer coisa serve?
Se o post lhe foi útil e você tiver alguma coisa a acrescentar sinta-se a vontade para deixar seu comentário e avaliar clicando nas estrelinhas aqui embaixo.
18 Comentários