Como expandir a escala de capacitância do multímetro digital
Suponhamos a seguinte situação: – Você comprou um multímetro digital lindo e maravilhoso daquele tipo que eu chamo de X-tudo e que, segundo o vendedor da loja ou a propaganda do “Black Frauday”, dizia que era “o mais vendido” do momento.
Entretanto, esqueceu de fazer o dever de casa e estudar bem as especificações de cada marca e modelo do mercado e ao chegar ao “seu lar” e tirar o brinquedinho novo da caixa descobriu que ele só mede capacitores até 200µF o que, na prática, não serve para quase nada.
E agora, será que teria como expandir a escala de capacitância deste multímetro digital para conseguir medir capacitores de capacitância maior?
Certamente não se trata exatamente de expandir a escala de capacitância do seu X-tudo, porque isto implicaria numa alteração profunda do projeto, mas não precisa chorar como criança porque nem tudo está perdido!
Na verdade o que eu vou descrever aqui é um pequeno “truque”, apoiado na boa e velha teoria que muitos rejeitam veemente alegando que na prática não serve para nada.
Em outras palavras, quero provar aos céticos que serve sim e ela sempre me ajudou a sair das enrascadas.
Uma coisa que todo técnico de eletrônica (com “t” maiúsculo) deveria saber sobre associação de capacitores
Quando colocamos dois capacitores em série o que acontece com o valor da capacitância equivalente do conjunto?
Se você respondeu que a capacitância equivalente será menor que valor da menor capacitância de cada um deles, meus parabéns!
Se não respondeu o que eu posso lhe recomendar é uma visitinha ao Clube Aprenda Eletrônica com Paulo Brites.
A receita do bolo
1) Pegue um capacitor de valor próximo e menor que a máxima escala de seu multímetro digital mede. Por exemplo, se ele só mede até 200µF, escolha um de 150µF.
2) Meça a capacitância dele e anote o valor. Vamos chamá-lo de CREF.
3) Coloque-o em série com o capacitor que você quer medir e que iremos chamar de Cx e meça a capacitância do conjunto, anotando o valor medido como CTOT.
Usando a teoria
Para calcular a capacitância total ou equivalente de dois capacitores em série, como mostrado na fig.1, devemos utilizar a seguinte fórmula:
A partir da fórmula básica faz-se algumas “manipulações” algébricas e chega-se a uma fórmula prática para encontrar CX.
Praticando
Agora vem a parte “mão na massa”.
Eu quero medir um capacitor cujo valor nominal é 470µF utilizando o multímetro digital MD-6108 da ICEL que só mede até 200µF.
Escolhi um capacitor de 100µF para ser o meu CREF.
De acordo com o item 2 da “receita de bolo” o MD-6108 mediu 112,8µF para este capacitor.
Coloquei-o em série com o Cx de 470µF (supostamente) e o MD-6108 meu forneceu 89,7µF.
Pronto já tenho os dois valores que preciso para calcular o CX usando a fórmula.
Fazendo as contas obtive 438µF o que é bem razoável.
Tirando a “prova dos nove”
Coloquei o capacitor CX no capacímetro CD-310 da ICEL e obtive 443µF. Nada mal.
Simples assim!
Como disse James Watt “nada é mais prático que uma boa teoria”!
Qual o capacímetro mais confiável?
Esta é uma pergunta que geralmente me fazem ou aprecem nos fóruns por aí.
Para ser sincero, destes digitais mais baratinhos que vendem por aí, eu diria, todos e nenhum.
Hein! Como assim?
O método de medição de capacitância feito pelos multímetros ou capacímetros digitais consiste basicamente em medir a constante de tempo em um circuito RC e dependendo da maneira como isto é implementado em cada projeto podemos encontrar valores de capacitância diferentes de um equipamento para outro.
Para exemplificar o que estou dizendo eu mostro na tabela abaixo a medição de um mesmo capacitor de 100µF realizada com quatro instrumentos diferentes.
Repare que temos pequenas variações de um instrumento para outro o que não chega invalidar a medida para a maioria dos casos de reparação de um equipamento.
Gostou?
Passe adiante, não guarde nada que você aprende para si mesmo, porque “caixão não tem gavetas”!
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