Como ler e interpretar esquemas eletrônicos
Volta e meia eu recebo pedidos de leitores sobre um livro ou uma aula que explique como ler e interpretar esquemas eletrônicos.
Sinceramente eu nunca tinha me atentado para o fato de que isto é um assunto relevante e realmente que deixa o principiante, hoje em dia, bastante confuso.
Digo, hoje em dia, porque quando eu comecei na eletrônica lá nos idos dos anos 60, ainda do século passado (kkk) os circuitos e, portanto seus esquemas eram bem mais simples e acho que nem percebi que ia aprendendo uma coisa “nova” a cada dia.
Os anos foram passando, os circuitos foram ficando cada vez mais complexos, novos componentes foram surgindo, mas eu fui “caminhando” junto com eles e creio que isso tornou as coisas mais fáceis para mim.
Quem chega agora no ramo não pode fazer aquela caminhada que eu fiz e realmente deve sentir muita dificuldade.
Uma coisa é aprender os circuitos isoladamente, outra é vê-los todos “juntos e misturados” em dezenas ou até centenas de folhas.
Paradoxalmente, “naquele tempo” os equipamentos eram fisicamente enormes, mas todo o circuito cabia numa folha de papel tamanho A4, hoje quanto menor é o equipamento, maior é quantidade de folhas de papel necessárias para apresentar o esquema do mesmo.
Então, vamos lá a algumas dicas preliminares enquanto eu vou pensando em elaborar um e-book sobre o tema que pelo que andei pesquisando na Internet parece que não existe nenhum.
O que é preciso saber para começar a ler e entender esquemas?
Parece óbvio, mas não custa dizer que a primeira coisa que se precisa conhecer é a simbologia dos componentes, pois os circuitos são desenhados com base nesta simbologia que é, praticamente, universal com pequenas variações.
Assim que me sobrar um tempinho irei preparar uma infográfico sobre isto (neste século ainda, kkk).
Um segundo passo é associar a simbologia ao componente propriamente dito caso contrário não irá encontrá-lo fisicamente na placa onde ele está montado.
Se você está estudando por livros ou até mesmo em aulas presencias esta é uma etapa que, às vezes, é mal explicada e o estudante acaba se tornando um “especialista” em desenhos e mais adiante tratarei dela.
Por outro lado, de pouco adianta conhecer as simbologias e os respectivos componentes associados a ela sem saber como o circuito funciona.
Tenho visto pelos fóruns na Internet, muita gente querendo resolver as coisas na base da adivinhação, pergunta aqui e ali sem nenhuma noção do que está querendo perguntar.
Não é assim que se aprende nada. Antes é preciso ter algum embasamento teórico e conceitual sobre qualquer coisa que se queira fazer.
Tentei suprir parte destas dificuldades como meu e-book Eletrônica para Estudantes, Hobistas & Inventores, mas reconheço que, às vezes, somente olhar figuras, e até mesmo fotos, por melhor que elas sejam, nem sempre, ajuda muito.
Estou preparando um projeto de aulas on line intitulado Clube Aprenda Eletrônica com Paulo Brites que breve estará “no ar” e lá teremos uma oportunidade de tratar destas coisas de uma forma que envolverá teoria e prática, mas enquanto ele não sai do forno e o e-book de “leitura” de esquemas não fica pronto vamos a algumas dicas.
Consertar não é adivinhar
Se você tentar consertar um televisor ou equipamento de som moderno, por exemplo, sem antes saber o que cada parte do circuito faz e como funciona, as chances de conseguir algum êxito é quase a mesma de ganhar na mega sena.
Comece estudando circuitos simples e montando-os, de preferência, em protoboards onde além de poder reaproveitar os componentes ainda poderá modificar alguns valores e analisar os resultados, é assim que se aprende eletrônica. Pelo menos foi assim que eu aprendi (e estudando muito, até hoje).
É assim que serão minhas aulas on-line, aliando teoria de forma sólida com prática verdadeira, sem labs virtuais.
Começando a entender esquemas: – a importância do diagrama em blocos
Uma maneira muito eficiente de se entender como os circuitos funcionam é através dos diagramas em blocos onde não se mostram todos os componentes e suas interligações, mas apenas blocos, como o próprio nome diz, nos quais são indicados os principais pontos do circuito como tensões de alimentação com seus respectivos valores, sinais de entrada e saída e algumas informações importantes.
Habitue-se a entendê-los e até mesmo a construir seu próprio diagrama em blocos a partir de um circuito que você tem na mão isto com certeza vai ajudar muito.
Cada fabricante tem seu jeito de construir seus circuitos
Supondo que você já possui um conhecimento teórico mínimo do funcionamento dos circuitos e quer partir para a reparação de algum equipamento, a primeira providência é descobrir qual a lógica que o fabricante usa para interligar as diversas partes dos seus circuitos.
Os esquemas não cabem mais numa folha de papel, então é preciso ir passando de uma folha para outra para dar continuidade ao circuito e para fazer isso os fabricantes utilizam regras próprias para indicar como as partes são interligadas.
A Philips, por exemplo, costuma identificar cada página com uma letra e um número. A letra corresponde a determinado estágio e o número indica partes deste estágio.
Veja abaixo um pedaço de um esquema de um TV Philips tomado como exemplo.
Repare que tem um bloco indicado como A4 (marcado com verde) e que tem um outro bloco indicado como A5 (marcado com azul), entretanto dentro deste bloco A5 existe uma indicação A4 marcada com vermelho. Isto quer dizer que estas duas linhas do A5 vão para o A4. Reparou que eu disse “vão”? Sim, porque o sentido das setas parece indicar que estão saindo de A5 para A4.
Entretanto, se olharmos o bloco A4 não vemos nenhuma linha com a indicação que aparece no bloco A5.
E agora? Certamente no restante do esquema existirão outros blocos também denominados A4 onde estas linhas devem chegar.
Por enquanto, estamos só trabalhando com diagrama em blocos, vamos dar uma olhada num pedaço do esquema propriamente dito.
Repare a área que coloquei em destaque com o retângulo vermelho.
Nela temos duas linhas marcadas como A5 INTF L IN e INTFL R IN.
Então, estas são as linhas que estávamos procurando e que apareceram aqui.
Esta é a metodologia que a Philips usa em seus esquemas, mas ela não é universal e outros fabricantes usarão as suas próprias regras e você terá que descobrir quais são porque eles não vão te dizer.
É claro que eu estou tratando aqui de situações bastante complexas e que um principiante certamente terá dificuldade de acompanhar, mas resolvi usá-las como exemplo do grau de dificuldade que muita gente enfrenta para ler alguns esquemas.
Por enquanto a intenção foi apenas começar o debate e aguardar os comentários para tentar entender qual a dificuldade que cada um tem e partir delas seguir uma estratégia de abordagem para um futuro e-book sobre um tema realmente complexo.
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