Kit didático do Multímetro Digital DT9205A, vale a pena comprar?
Estava eu a procurar um kit de multímetro digital que pudesse indicar aos alunos do Curso de Eletrônica Básica que colocarei a venda em breve quando me deparei com este “kit didático do Multímetro Digital DT9205A, no Aliexpress.
A tradução é minha porque na página do Aliexpress aparece assim:
“Kit de ensino multímetro digital DT9205A treinamento soldagem kit produção diy”.
Só rindo desta “tradução” do Google por isso, sempre passo o idioma para inglês, mas isso não vem ao caso.
O preço era convidativo neste momento do dólar “domesticado”, sairia por pouco mais de R$ 100,00 com frete incluído ou $15,00 sem o frete.
Estava muito barato para ser alguma coisa que prestasse mas, resolvi arriscar assim mesmo.
É claro que por este preço eu não esperava receber um kit como os da Elenco, por exemplo, ou, menos ainda, um “bom e velho” Heatkit que só a turma da velha guarda do ferro de solda conheceu.
Como eu disse, arrisquei e conclui que este tal de kit didático do Multímetro Digital DT9205A, para ser RUIM precisa melhorar muito.
Costumo dizer que, provavelmente seria mais um “produto” chinês que não iria passar no “teste do gato”.
E não passou mesmo, o bichano cheirou e jogou terra por cima!
Vamos a análise do “mau cheiroso” kit didático do multímetro DT9502A
Em pouco mais de 30 dias chegou o dito cujo embrulhado em plástico bolha. A caixa de papelão que aparece na propaganda ficou lá na China.
Um saco plástico com o gabinete de plástico aceitável, um monte de pecinhas, um esquema, um chapeado (ainda bem) e um bilhetinho “se vira malandro”, isto é, nenhuma instrução para a montagem.
É isso que lá na China eles chamam de “kit didático”?
Pelo menos os resistores estavam bem arrumadinhos em duas tiras de papelão com a indicação da posição e o valor ao lado como vemos na figura 1.
Sobre a localização dos componentes, resistores principalmente, não há nenhuma lógica “humana” na sequência, mas dá para ir encontrando com um pouco de paciência.
Até aqui eu ainda tinha um fio de esperança de poder sugerir a montagem aos alunos.
Seria uma oportunidade para eles praticarem a leitura de código de cores de resistores, quem sabe.
Procedi a instalação e soldagem de todos os resistores, mais alguns capacitores e três trimpots que eu deveria “descobrir” para que serviriam e como ajustá-los.
Ops! Isso não é nada didático.
Mas, vamos em frente que o pior está por vir.
Montando a chave seletora de funções
Num saquinho tinham três “rodelas” plásticas para o estudante montar o seletor de funções. Duas delas você vê na figura 2 e mais adiante falarei das dita cujas.
Em outro saquinho tínhamos diversos parafusos, duas molinhas, duas bilhas, cinco “pecinhas” douradas e outra coisinhas.
Certamente todo estudante iniciante “nasce sabendo” e portanto, não terá dificuldade para encontrar o lugar das molinhas, bilhas e as pecinhas douradas uma vez que o kit pretendia ser didático e não havia nenhuma instruções sobre como montar a chave seletora.
Posso apostar que mesmo técnicos experientes que não tenham “intimidade” com desmontes de multímetros digitais saberiam o que fazer com aquelas coisinhas.
Se você caiu no canto de sereia, comprou este kit e está perdido tentando montar a chave seletora de funções as figuras 3 e 4 poderão ajudar.
O primeiro passo será colocar a mola e a bilha (nesta sequência) nos furinhos que estão marcados com o círculo amarelo na figura 3.
Agora vai vir a parte um pouco mais difícil (por enquanto) que será colocar as cinco pecinhas douradas na outra “rodelinha” de plástico preto que vai compor a chave seletora e você vê na figura 4.
Você deve estar querendo me perguntar como eu sabia que a posição destes contatos douradinhos é a que aparece na figura 4.
Esta é a melhor parte do jogo de adivinhação do kit didático DIY (Do It Yourself, Monte Você Mesmo).
Aquele desenho com uns tracinhos e alguns números que aparece na parte superior da figura 4 veio no esquema chapeado do kit com alguma coisa escrita em mandarim, que é uma “língua universal” (na China, claro) e eu “adivinhei” que os números deveriam informar a posição dos contatos.
Simples, para qualquer estudante com uns 50 anos de prática!
O próximo passo será instalar este conjunto na placa, mas isso eu vou mostrar no vídeo que acompanha este post.
Se você é resiliente como eu e conseguiu chegar até aqui, parabéns.
Hora da batalha final
Precisamos fazer a conexão entre o display de cristal líquido e a placa do multímetro.
A moda atualmente, nestes instrumentos “baixa renda”, é utilizar um strip de contatos como mostrando na figura 5.
A primeira vez que tive contato (sem trocadilho) com este tipo de maneira de se fazer a ligação entre displays de cristal líquido foi quando eu era autorizado da Tec Toy.
Eles eram utilizados em brinquedinhos e mini vídeo games baratinhos.
Ajudavam a pagar as contas da oficina pois, volta e meia aparecia um para consertar com o display apagado ou falhando.
Era só desmontar a “coisa” e limpar os contatos com álcool isopropílico e o bichinho voltava a fazer a alegria da criança e dos pais que por poucos “dinheiros” tinham o problema resolvido.
Talvez eu tenha acabado de resolver o problema de um multímetro digital seu que está perdido em alguma gaveta da sua oficina.
Como eu disse, esta solução vem sendo adotada em quase todos os instrumentos baratos mas, aqui a questão é que o projetista deste “kit didático” pediu para fazer a coisa de maneira bem complicada e entrou na fila dez vezes.
Vai ficar mais fácil explicar isso no vídeo., mas por ora quero apenas dizer que tive que desmontar e montar por três vezes para conseguir fazer acender todos os seguimentos do display.
Na figura 6 você vê como ficou a primeira vez.
A primeira decepção depois de tudo pronto (tem mais)
Resolvido, aparentemente, o problema do display vamos ao primeiro teste.
Comecei com a posição continuidade e diodo e…. não funcionou.
Só tinha o apitinho quando unia as pontas de prova, mas o display permanecia mostrando OL (Over Load) e não indicava ZERO como deveria ocorrer.
Tentei testar um diodo e “deu ruim” também.
Pulei esta parte par ver depois e fui para as medida de resistência.
Funcionou, ou seja, mediu mas, faltava verificar a acurácia das medidas.
Pulei para as medidas de tensão DC. Até que leu mas com diferenças nas leituras se comparadas com um DVM da ICEL que estava à mão.
Lembrei que tinham três trimpots para ajustes, provavelmente um deles deveria resolver isso mas, o “kit didático” não informava qual.
Vamos combinar que um kit de multímetro que se diz didático não deve ter ajustes e se tiver tem a obrigação moral de informar como fazer.
Olhando o esquema descobri que o candidato a ajustar as leituras de tensão DC deveria ser 1VR1.
Bingo! Deu certo, coisa que qualquer estudante iria descobrir, não é mesmo?
As leituras de tensão AC também deram alguns errinhos, olhando o esquema descobre-se que o trimpot 3VR1 deverá resolver.
A questão de continuidade e do teste de diodo ainda me incomodavam.
Na posição continuidade/diodo os DVM’s costumam entregar cerca de 2,8V a 3,0V nas ponteiras e quando colocado um diodo para ser testado devemos ter uma corrente da ordem de 1mA.
Fiz o teste e funcionou, sinal de que o circuito estava funcionando.
Provavelmente, ainda deve ter mal contato entre os flats e os strips ou, sabe-se lá, coisa pior.
Por ora, deixei assim para poder gravar o vídeo.
A leitura de capacitores também apresentou divergências quando comparadas com o capacímetro ICEL CD-310.
O problema talvez pudesse ser resolvido ajustando o trimpot VR3. Veremos no vídeo.
O teste de hFE foi outra encrenca, difícil encaixar os transistores no soquete. Desisti.
Não fiz teste de medidas de corrente até porque este “instrumento” vai virar sucata mesmo, afinal o pior que não medir nada é medir errado.
E para finalizar, o Auto Power OFF não funciona ou talvez funcione, ele vai “autodesligar” quando a bateria estiver descarregada!
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