Mais uma impressora que não puxava o papel
Na Fundação do Estado, onde trabalho como técnico em eletrônica há quase oito anos, faço “clínica geral”, conserto (ou pelo menos tento) quase tudo que se liga na tomada.
Dia desses chegou a minhas mãos uma multifuncional Samsung SCX-4200 que, segundo a funcionária que a utiliza, “não puxava o papel”.
Temos varias delas na Fundação e posso afirmar que é uma “guerreira” que aguenta bem o tranco de impressões a todo vapor, mas sempre tem um dia de revolta em que até as máquinas resolvem cruzar os braços e entrar em greve.
Colocada a “grevista” na bancada comecei a fase inicial de verificação do sintoma, pois nem sempre (ou talvez, nunca) devemos acreditar piamente na informação passada pelo cliente (no meu caso, o usuário) e cabe ao técnico destrinchar esta informação.
Observei então que a impressora, na verdade, puxava o papel, começava a imprimir e em seguida iniciava uma nova impressão e aí sim, o papel ficava retido em baixo do cartucho do toner.
Levantada a tampa traseira (que é por onde o usuário deve retirar o papel preso) pude observar que havia também uma folha presa (atolada) na saída referente à primeira impressão.
Se o papel estivesse todo sanfonado na saída o problema seria no rolo do fusor danificado, mas não era este o caso; o papel não conseguia completar o fluxo de saída porque o mecanismo havia parado antes do tempo.
Refiz a operação de impressão duas ou três vezes para tentar entender o que estava acontecendo. Enquanto eu olhava, para impressora grevista fazendo a sua birra, da mesma forma que um burro olha para um palácio, minha memória foi me dizendo que eu já havia visto “aquele filme” outras vezes.
Antes de tudo é preciso saber como “a coisa” funciona
Seja qual for a impressora (jato de tinta ou laser) sempre teremos dois sensores compostos por um foto acoplador com janela, sendo um na entrada do papel e outro na saída.
Ao receber o comando de impressão o micro controlador acionará o motor com seu conjunto de engrenagens que dará inicio a puxada do papel.
Se for uma impressora laser, estas engrenagens também terão que movimentar o rolo fotocondutor do cartucho de toner.
Em determinado ponto o papel acionará uma alavanca de plástico acoplada ao sensor foto acoplador abrindo a “janela” e deixará passar o feixe de luz, o que
provocará a mudança no nível lógico no coletor do foto transistor do sensor. Este nível lógico informará ao micro que o papel já passou por ali e o micro pode continuar excitando o driver do motor.
O papel segue seu caminho enquanto a impressão é feita até chegar num sensor semelhante na saída que novamente informará ao micro que pode “desligar” o motor.
Os tempos de ativação e resposta dos sensores são precisos e se um deles falhar o micro controlador “manda” o motor parar imediatamente.
Entretanto, o motor deve acionar as engrenagens de forma sincronizada e para fazer este trabalho pode haver um ou mais solenóides ativando pequenas lâminas que funcionam como uma espécie de trava para alguma engrenagem parando-a na hora certa.
O importante é que tem que haver um sincronismo perfeito entre a eletrônica comandada pelo micro controlador e a mecânica. Isso é o que se chama modernamente de mecatrônica.
O que estava acontecendo?
Melhor seria dizer “o que não estava acontecendo”?
Exatamente isso: – a falta do “sincronismo perfeito”.
No momento em que a haste do solenoide deveria destravar (ou travar) uma determinada engrenagem e imediatamente voltar a sua posição de repouso, ela não o fazia.
Na primeira vez que vi este problema cheguei a pensar que a bobina do solenóide pudesse não estar recebendo tensão (vinda do micro) ou que a bobina estivesse aberta.
Retirado o solenoide do lugar e medida a resistência ôhmica da bobina, a mesma parecia estar ok.
Resolvi então aplicar 12V para ver se ele respondia. Para minha surpresa a haste foi atraída, mas quando retirei a tensão da bobina, a haste não voltou para a posição de repouso como deveria.
Era como se o núcleo do solenóide se mantivesse magnetizado mesmo depois de cessada a corrente na bobina.
Neste conjunto há uma pequena mola para manter a haste em repouso. Já encontrei uma graxa (de fábrica) nestas molas que com o tempo e, certamente, por causa da temperatura, vira uma espécie de goma grudenta dificultando a ação da mola. Mas, não era este o caso.
Parti então para o desmonte do solenoide a fim de descobrir se havia algum duende escondido por ali fazendo com que a haste ficasse pressa ao núcleo mesmo depois de cessada a corrente na bobina.
Pois, não é que lá estava o duende, e de fábrica. Um pequeno calço de borracha que com tempo e a temperatura fica grudento.
Qual a finalidade desta borrachinha?
Não sei, mas o fato é se você retirá-la e fizer uma limpeza com álcool, removendo a cola que ficou na haste a impressora volta a funcionar!
Repetindo o “mantra” do reparador
1º) analisar o sintoma;
2º) saber como a “coisa” funciona;
3º) fazer o diagnóstico;
4º) encontrar a solução (antes de colocar mais defeitos).
Moral da história
O problema da eletrônica é a mecânica!
Até sempre.
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