Medindo resistores de baixo valor ôhmico

Medindo resistores de baixo valor ôhmico

Medir resistores de baixo valor ôhmico, da ordem de 1 ohm ou menores, mesmo com um bom multímetro digital pode nos dar um resultado enganoso, pois as próprias ponteiras já poderão introduzir uma resistência indesejável na medida.

Aliás, já que falamos em ponteiras, é uma questão para a qual o técnico deve estar sempre atento e formar o hábito de verifica-las regularmente. Para isso, coloque o multímetro na menor escala de resistência e uma as pontas para verificar se a leitura é o mais próximo de zero possível e se não for é hora de trocar de ponteiras.

Após esta dica, às vezes esquecida, voltemos ao tema do post: os resistores de óxido metálico de baixo valor ôhmico que são comumente encontrados em fontes chaveadas e inverters, e que pela sua construção costumam sofrer alteração de valor para maior.

Por outro lado os resistores de óxido metálico, quando alterados, podem apresentar uma resistência a “frio” diferente daquela que realmente terão quando uma corrente estiver circulando por eles o que fará com o que o técnico descarte, erroneamente, a possibilidade de que o resistor esteja defeituoso e acabe “passando batido” pelo defeito.

Se o resistor estiver “moreninho de praia”, mesmo que ao medir ele apresente o valor “correto”, a melhor opção é trocá-lo, caso você não queira realizar o procedimento que será descrito a seguir.

Símbolo de componente crítico

Símbolo de componente crítico

Entretanto, é importante utilizar na substituição um de mesmas características, principalmente se no esquema (ou na PCI) aparecer o símbolo de uma exclamação dentro de um triângulo que identifica componente crítico.

Jamais utilize resistor de fio no lugar de um de óxido metálico, pois os resistores de fio, pela sua construção, são indutivos o que pode provocar distúrbios em circuito de fontes chaveadas.

Medindo o resistor ou usando a Lei de Ohm na prática

Uma maneira relativamente simples de encontrar o valor da resistência o mais preciso possível é utilizando a Lei de Ohm.

Se você não tem “intimidade” com esta Lei sugiro que clique no link acima para rever os conceitos.

Em linhas gerais esta lei nos diz que a queda de tensão em um resistor ôhmico é igual ao produto de sua resistência pela corrente que está circulando por ele, isto é, ER = R x I.

Agora imaginemos dois resistores em série onde o valor da resistência de um deles é conhecido com razoável precisão a qual chamaremos de R e o outro, o que queremos medir, chamaremos de Rx. Montemos o seguinte circuito.

Circuito para medir resisto de baixo valor

Suponhamos, para exemplificar, que a fonte fornece 10 V e que R é de 100 ohms.

Se o valor de Rx for muito menor que o de R podemos ignorá-lo uma vez que R + Rx será praticamente igual a R.

Por exemplo, se R = 100 ohms e Rx = 0,5 ohms o valor da resistência equivalente será 100,5 que é aproximadamente 100 ohms para efeitos práticos.

Sendo assim a corrente no circuito (desprezando-se Rx), de acordo com a Lei de Ohm, será 10V / 100 ohms = 0,1 A ou 100 mA.

Colocando-se o Rx no circuito, cujo valor de sua resistência é muito menor que a de R, e mantendo-se a fonte em 10V notaremos que a corrente no circuito continuará aproximadamente igual a 100 mA.

A seguir medimos a queda de tensão em Rx e suponhamos que encontramos 50 mV.

O valor de Rx, ainda segundo a Lei de Ohm, será dado pela queda tensão em Rx que foi 50 mV dividido pela corrente no circuito que foi 100 mA, ou seja, 0,5 ohms.

O grande macete neste caso é trabalhar sempre com uma corrente de 100mA, pois aí bastará dividir o valor da tensão medida em milivolts por 100 e teremos o valor de Rx (50 /100 = 0,5)

Um fato que devemos levar em consideração neste caso é que Rx seja, pelo menos, 100 vezes menor que R e neste caso era 200 vezes menor.

“Construindo” um Ohmímetro para resistências de baixo valor

Para “construir” este utilíssimo medidor de resistores de baixo valor ôhmico você irá necessitar apenas de uma fonte que forneça, preferencialmente, uma tensão DC entre 20 e 30V e capaz de fornecer uma corrente de 100 mA (no mínimo), um resistor variável entre 200 e 500 ohms para 3W (no mínimo) além de um multímetro digital, pelo menos. Se tiver dois, melhor ainda, pois um será usado para medir tensões da ordem de milivolts sobre o resistor “desconhecido” com a melhor precisão possível e outro para medir a corrente no circuito que será ajustada em 100mA no potenciômetro de fio.

Não é necessário que este resistor conhecido tenha um valor preciso, já veremos porque, mas deve ter entre 200 e 300 ohms e este valor dependerá da fonte utilizada. Por exemplo, se a fonte for de 20V o resistor deverá ser de 200 ohms, se for 25V devemos usar 250 ohm, e assim por diante de modo que se obtenha sempre uma corrente de 100mA.

Eu utilizei um módulo de fonte de uma impressora sucateada que fornecia 30V logo o resistor teria que ser de 300 ohms.

Mas não podemos esquecer-nos da potência que será dissipada neste resistor.

O cálculo da potência dissipada no resistor pode ser feito de diversas maneiras. Optei por multiplicar o valor da resistência pela corrente nele elevada ao quadrado (P = R x I2) que é um “mix” obtido da fórmula “mãe” para o cálculo da potência (P = V x I) com a Lei de Ohm (V = R x I).

Então para R = 300 ohms e I = 100 mA teremos P = 300 x (0,1)2 que nos dará 3 watts.

Se você não entendeu porque eu usei 0,1 para fazer as contas, a resposta é simples: 100mA = 0,1A e para obtermos o resultado em watts temos que trabalhar com a corrente em ampères.

Montagem para medir o resistorMeu resistor “conhecido” foi obtido com um velho potenciômetro de fio de 100 ohms – 4 watts das minha sucata em série com um resistor de 240 ohms que iria dissipar 2,4 watts, portanto usei um de 3 watts também da sucata.

O conjunto potenciômetro + resistor dá 340 ohms o que permite, ajustar com tranquilidade, para uma corrente de 100mA.

A seguir coloca-se o resistor a ser medido em série com o conjunto e providencia-se um ajuste fino no potenciômetro para que a corrente se mantenha em 100mA.

0 próximo passo será medir a queda de tensão em milivolts sobre o resistor cujo valor queremos determinar e dividindo este valor por 100 teremos o valor de sua resistência.

Por exemplo, suponhamos que medimos 52mV, logo a resistência é de 0,52 ohms. Assim, se no corpo dele o valor indicado é 0,47ohms tudo indica que ele está alterado.

A vantagem do método é que mede-se a resistência do resistor com ele submetido a uma corrente de 100mA circulando por ele.

Mas esta corrente não vai queimar o resistor?

Vamos fazer as contas. Lembra da fórmula? P = R x I2, o que nos dá para este exemplo o seguinte valor P = 0,52 x 0,12 = 0,0052 watts ou 5,2mW.

Acho que você já deve ter concluído que não queimará, pois certamente o resistor que você está medindo deve suportar uma potência maior que 5,2mW!

Você pode achar estranho ter que fazer uma “manobra” destas para medir um simples e resistor, afinal nunca precisei fazer isso.

E quantas vezes você se deparou com resistores de óxido metálico de valor inferior a 1 ohm que não estavam visivelmente queimados?

Novos tempos meu amigo exigem novas soluções, pense nisto!

Exemplo mostrando a medição de um resistor de 0,1 ohm.Mdindo um resistor de 0,1 ohm

 

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Medindo resistores de baixo valor ôhmico    

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Paulo Brites

Técnico em eletrônica formado em 1968 pela Escola Técnica de Ciências Eletrônicas, professor de matemática formado pela UFF/CEDERJ com especialização em física. Atualmente aposentado atuando como técnico free lance em restauração de aparelhos antigos, escrevendo e-books e artigos técnicos e dando aula particular de matemática e física.

Website: http://paulobrites.com.br

6 Comentários

  1. Marcos T C

    Boa explicação, eu mesmo sem ter feito eletrônica em cursos, entendi tudo o que vc explicou. Está ótima a explicação. Eu fui sempre curioso e aprendi na Internet, sei que devo me especializar em algum curso pra aprender mais e firmar meus conhecimentos tendo um diploma de alguma instituição, mas por enquanto, vou vendo explicações como a sua… Seja sempre assim, está de parabéns.

    • Que bom Marcos ter o seu depoimento. Como você mesmo disse consegui entender tudo. Ter um diploma pode ser importante para quem pretende fazer um concurso ou trabalhar em alguma empresa mas, infelizmente os cursos andam muito ruins, pelo menos aqui no Rio, pela má qualidade de professores e infra estrutura que não oferecem um laboratório pra aulas práticas. Boa sorte

  2. jose walter tenorio

    como e bom ter alguem que se importa de ativar os neuronios e mos-trar que e eletronica/eletricidade nao e bicho de sete cabeças,obrigadooooooooooooooooooooooo.

    • paulobrites

      Pois é o problema é que se ensina muito teoria e não se mostra para que serve. Semore combati esta forma de ensino feito por professores-profissionais Eu sou um profissional-professor.
      Abraços

      • Estava precisando dimensionar um shunt e você me ajudou muito… e a propósito estou com dificuldades para calcular o valor do capacitor de uma fonte ret. de onda completa… o secundário do trafo é de 16vac (rms) e a corrente máxima é de 90 Amperes…

        • Paulo Brites

          Olá Cristiano
          Isto está bem explicado no meu livro Eletrônica para Estudantes, Hobistas & Inventores.

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