Não exploda o seu osciloscópio

Não exploda o seu osciloscópio

Este é o título do capítulo 2 do meu e-book Osciloscópio sem Traumas onde eu falo dos cuidados que se deve ter ao utilizá-lo para evitar “queimá-lo”.

Quando eu digo “não exploda seu osciloscópio” eu apelei para o sensacionalismo típico de manchetes de jornais e revistas com a intenção de chamar a sua atenção, embora na prática não creia que haverá uma explosão propriamente dita no melhor estilo “caixa de banco” tão na moda atualmente e sim algum dano a fonte, no mínimo.

Entretanto, por mais que eu tenha me esforçado no referido capítulo para não deixar dúvidas sobre “certos” cuidados, parece que elas ainda persistem como me relatou um leitor lá no grupo do facebook EXCLUSIVO para compradores do livro e sendo assim, resolvi tentar dar uma nova abordagem ao tema por ser muito importante.

OBS Este grupo do facebook está desativado.

Creio que tudo começa com a confusão que, geralmente, é feita entre “terra” e neutro da rede elétrica.

Como sempre digo devemos sempre começar pela definição e elas estão lá no meu artigo “Fio terra para leigos” publicado aqui no site e que eu repito abaixo:

NEUTRO:  CONDUTOR FORNECIDO PELA CONCESSIONÁRIA (JUNTO COM A(S) FASE(S) PARA O RETORNO DA CORRENTE ELÉTRICA

TERRA: HASTE METÁLICA LIGADA À TERRA (pode ser um “buraco no chão”, mesmo) NA ENTRADA DE ALIMENTAÇÃO E QUE NÃO DEVE APRESENTAR CORRENTE CIRCULANTE.

Resumindo:

           Pelo neutro passa corrente enquanto pelo terra, não.

A questão é que os osciloscópios vendidos no Brasil, geralmente, utilizam um padrão americano onde terra é terra (terceiro pino) e neutro é neutro, mas aqui no Brasil isto nem sempre (ou quase sempre) não é seguido e ainda tem o Zé Faísca que além de não colocar o neutro no terminal correto da tomada, às vezes, ainda o liga junto com o terceiro pino da mesma para “garantir o sucesso” da explosão.

Como se não bastasse a confusão cometida pelo pedricista (pedreiro + eletricista e, às vezes, bombeiro também) que fez a instalação elétrica temos a falta de correspondência entre o pino de neutro do padrão brasileiro de tomadas com o padrão americano como vemos na figura abaixo. Repare que eles estão em lados opostos.

Ligação de fase e neutro nas tomadas

Ligação de fase e neutro nas tomadas

Olhando-se a tomada de frente com terceiro pino voltado para baixo temos o neutro à direita no padrão brasileiro e à esquerda no padrão americano.

Este foi um dos vacilos ao criarem o padrão brasileiro, que tem sua inegável vantagem quanto a segurança, mas não teve o cuidado de manter a correspondência de posição do pino neutro de uma tomada com a outra (o outro vacilo foi criar dos tipos, um para 10A e outro para 20A. Por que não fazer tudo para 20A? ).

Mas, como diz o ditado “nada está tão ruim que não possa piorar” e aí você compra aqueles adaptadores que “transformam” um padrão em outro e será alguém se preocupou em fazer também a “transposição” dos neutros?

Tenho minhas dúvidas talvez sim, em alguns casos, e talvez não em outros (o mais provável). A conferir.

Espero que você já esteja percebendo o que pode acontecer quando ligar seu osciloscópio numa tomada e o aparelho a ser analisado em outra com fase e neutro em posições invertidas isso sem falar do terra que, às vezes, como eu já disse, foi ligado junto com o neutro na tomada.

Como proceder então, para evitar se tornar um terrorista?

No capítulo 2 do livro eu sugiro verificar com um ohmímetro se há continuidade entre a parte externa dos conectores que corresponde ao ground e a terceiro pino e, certamente, haverá.

Mais adiante eu sugiro utilizar um transformador de isolamento onde será ligado o equipamento (não o osciloscópio) a ser “autopsiado”.

Entretanto, tenho que admitir que nem sempre esta solução é possível e aí, a melhor forma de proteger o osciloscópio é manter uma tomada de uso exclusivo para ele com fase e neutro corretos e, por segurança, verificar se não há ddp entre a parte externa do conector BNC e o neutro ou a fase da rede elétrica onde ele está ligado.

Além disso, verifique se não há ddp entre o ground do equipamento em teste e a garra jacaré da ponteira do osciloscópio.

É possível ver a senóide da rede elétrica?

Sim, se você tomar todas as precauções descritas até aqui não vai ter nenhum problema nem explosões!

Espero que agora as dúvidas estejam esclarecidas.

Outra dúvida também foi com relação a questão do acoplamento DC e AC, brevemente farei um post esclarecendo também este assunto.

Aguardo seu comentário bem como a votação No artigo nas estrelinhas aqui em baixo.

 

 

 

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Paulo Brites

Técnico em eletrônica formado em 1968 pela Escola Técnica de Ciências Eletrônicas, professor de matemática formado pela UFF/CEDERJ com especialização em física. Atualmente aposentado atuando como técnico free lance em restauração de aparelhos antigos, escrevendo e-books e artigos técnicos e dando aula particular de matemática e física.

Website: http://paulobrites.com.br

11 Comentários

  1. Adeilton Araujo

    Bom dia, neste sentido, é viável usar o osciloscópio numa tomada sem aterramento?

    • Caro Adeilton, eu diria que sim. Melhor ainda usar transformador de isolamento.
      O importante é verificar se há ddp entre o GND do scope e o GND do equipamento.
      Observe que a entrada das SMPS não isoladas da rede.
      Vai depender muito das instalação da bancada. Eu recomendo que se use tomada de três pinos mesmo que não se use aterramento, mas para servir de guia para fase e neutro.

  2. Jackson Broetto

    Olá, adquiri recentemente um osciloscópio Hantek DSO5202B (200mhz) direto da china
    veio com o padrão de tomada americano.
    Em minha residência existe o aterramento em todas as tomadas (ligado a uma haste de cobre enterrada na terra).
    se eu ligar o osciloscópio na rede seguindo o padrão que vc explicou, Fase com Fase, Neutro com Neutro e terra com terra (verdadeiro-ligado a uma barra enterrada) posso dessa forma medir a onda senoidal direto da tomada?

    • Paulo Brites

      Olá Jackson
      Verique com um voltimetro se há tensão entre a parte externa dos conectores BNC (GND) e algum pino da tomada, ou melhor dizendo, em cada fio que chega à tomada. Uma tensão dá ordem de 4 a 5V entre fase e terra é normal, mas se a tensão for maior que isto o mellher é isolar o tereeiro pino para não provocar um curto.
      Eu estou preparando uns vídeos para um curso de osciloscópio que sairá até o meio de fevereiro e nas primeiras aulas vou dar mais detalhes sobre isso. Se inscreva no meu canal para ser avisado
      https://www.youtube.com/c/AprendaEletrônicacomPauloBrites

  3. junior

    boa noite paulo, otimo topico.
    Na minha residencia 220V F-N-T, sigo a norma, fase, neutro e terra, sistema TT, e sei que o osciloscopio a garra é aterrado, basicamente uma continuação do pino terra no equipamento direto na garra.
    minha duvida é, não tem problemas eu conectar a garra do osciloscopio o “terra” direto no neutro da rede e a ponta de prova em uma fase? sempre ocorre um DDP entre neutro e terra, de 2~3V, isso pode gerar algum problema, ou pode ser feito sem problemas?
    e se fosse medir um sistema trifasico, uma garra iria no neutro, sendo que as garras são interligadas internamente no osciloscopio, e cada uma das ponteiras em uma fase, haveria algum risco, e se a ponteira é isolada uma da outra?
    desde ja grato.

    • Paulo Brites

      Tudo que você disse está correto, 2 ou 3V (até 4) é “normal).
      Por precaução, sempre meça a tensão entre a garra do osciloscópio e o neutro.
      Uma ponteira é isolada da outra, mas os terras (garra) são comuns. Se a tensão for baixa (2 ou 4V) numa também deverá ser na outra.
      Trabalhe sempre com x10.
      Espero ter ajudado.

      Estou preparando um novo artigo sobre esta questão de aterramento que sempre gera confusões.Recentemente publiquei um sobre choque em carregadores de celular, dá uma olhada.

  4. Alberto Trajano

    Olá. Se o aterramento da edificação for TN-S, existe algum problema? Alguns técnicos dizem ser impossível conectar o gnd e a ponteira de prova na rede elétrica para analisar a senóide. Agradeço pela atenção.

    • Paulo Brites

      Olá Alberto
      O melhor sistema é o TT como eu explico no meu post “A eterna polêmica terra versus neutro”, mas se TN-S tem que conviver com ele sem pânico.
      Não existe problema em verificar a rede com o osciloscópio se você tiver o cuidado de verificar que não há tensão entre o GND da ponteira e nenhum pino da tomada. Na dúvida a melhora opção é usar um transformador de isolamento. Aliás, hoje em dia eu sugiro fortemente ter um na bancada e para ligar os equipamentos (tv, etc) que estão sendo reparados. A tomada brasileira teve um grande avanço no que diz respeito a segurança do usuário, mas fora isso só trouxe confusão e o terceiro pino que mesmo que não fosse usados como terra serviria como guia acabou sem abolido. Como diz aquela piadinha “tá tudo certo, só esqueceram de combinar com os russos”!

  5. Lisandro

    Tenho muita vontade de ver a senoide da tomada aqui de casa, mas até hoje não tive coragem de ligar o osciloscópio nela… risos

    Aqui em minha cidade a rede é monofásica (220 – 0), sendo que o neutro é aterrado já na caixa de entrada, onde fica o relógio.

  6. Francisco Carlos da Cunha

    Ótimo artigo. Obrigado.

    • Paulo Brites

      Que bom que foi útil

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