O dia que eu vi um OVNI
Se você me segue aqui no blog já deve ter notado que, de vez em quando, eu coloco uns textos que parecem fugir ao tema principal e já, já explicarei o motivo.
É novo “no pedaço”?
Acostume-se, pois nem só de eletrônica vive um técnico.Na verdade, a ideia é, futuramente, colocar estas minhas “viagens literárias” em outro blog – Abobrinhas Filosóficas. O domínio já está reservado, só faltou tempo para configurá-lo e colocar no ar.
Espero que seja antes da “vacina” chegar o que, pelo andar da carruagem (literalmente), deverá acontecer.
Posto isso, vamos ao dia que eu vi um OVNI.
Esta é uma “história verídica” de ficção científica (!) da minha vida e que me veio à mente dia desses, quando assistia televisão.
Alguém falava de uma discussão que tomou conta do mundo nos últimos tempos sobre a crença (crença não é ciência) de que a Terra é plana e assim, como uma coisa nonsense leva a outra, minha mente voltou a um ano que fica entre 1976 e 1992. Não lembro exatamente, mas isso não muda nada, afinal ficção é ficção. Ontem, hoje e sempre.
Naquela época eu trabalhava na Embratel/Tanguá. O pior emprego da minha vida. Ganhava bem, se comparado com os dias atuais, mas não me divertia.
Executava tarefas sem nenhuma criatividade. Um mero robô apertador de botões.
Aliás eu descobri, por acaso, ainda quando estava na empresa, que embora tivesse sido aprovado na parte técnica, o teste psicológico (tinha isso naquela época) não me recomendava para aquela vaga.
Então, para que fazer teste psicológico?
Confesso que, nos primeiros seis meses, estava a ponto de pedir demissão. Tinha dor de barriga e enxaqueca quase todo dia.
Hoje eu sei que isso se chama estresse (a psicologia tinha acertado).
Mas, perder aquele salário “bom”, com uma filha de dois anos em casa, me fazia pensar duas vezes.
São aqueles momentos da vida em que “os fins justificam os meios” e temos que engolir os sapos que ela nos oferece como refeição nossa de cada dia.
Foi quando me transferiram para um setor novo, onde por um tempo tive alguns desafios e o principal deles, que foi bom para mim, é que, definitivamente, tive que aprender inglês.
A vida é sempre feita de perdas e ganhos, compete a cada um de nós tentar fazer um jogo de soma zero.
Outra vantagem é que neste novo setor eu tinha muito tempo ocioso e poderia aproveitá-lo para fazer o que mais gosto na vida, estudar e aprender coisas novas.
Trabalhar para mim tem que dar prazer, senão passa a ser literalmente trabalho e isso não é bom.
E as contas para pagar como é que ficam?
Olhando pelo prisma do trabalho/prazer, os melhores empregos que tive, sem contar o primeiro de 67 a 75, quando comecei a atuar como professor ainda durante o curso técnico, aconteceu nos últimos oito anos antes de me aposentar compulsoriamente em 2005 ao completar 30aC (antes dos Cem, faça as contas).
Ganhava pouco, mas me divertia, como diz o dito popular.
E mais que me divertir, sentia-me útil atuando verdadeiramente como técnico de eletrônica e professor de física numa escola pública para jovens e adultos.
Sem nenhuma modéstia, posso afirmar que fiz um bom trabalho como técnico de eletrônica na Fundação CECIERJ e como professor na Escola Pública. Devo ter aprendido mais com aqueles alunos, sobre a vida, do que eles aprenderam sobre física comigo.
Mas, voltando à Embratel e ao OVNI, quando fui admitido em 76 me designaram para trabalhar em Tanguá e para quem não é do Rio vale informar que é um local um pouco isolado entre Itaboraí e Rio Bonito.
Lá ficava a Estação Terrena da Embratel, quase no meio do mato.
Eu trabalhava em turnos que alternavam entre 15 dias à noite e 15 de dia.Uma das tarefas dos operadores da noite era sair do prédio principal e ir inspecionar duas antenas parabólicas imensas que ficavam um pouco afastadas deste prédio. Alguns preferiam ir com uma Kombi da empresa que ficava no pátio à disposição dos operadores, caso precisassem para alguma eventualidade, uma vez que lá trabalhavam umas dez pessoas isoladas fisicamente do mundo.
Como eu não dirigia, ia caminhando pelas “ruas internas”, pouco iluminadas, do pátio da Estação Terrena de Tanguá, sempre tendo o cuidado para não encontrar uma cobra ou um sapo pelo caminho.
Numa dessas “aventuras” em que a noite estava bem escura, pois já caminhava para madrugada e não havia nenhuma estrela “visível” no céu, foi quando eu vi o OVNI.
A noite estava um breu, como eu disse, e de repente olho para o alto e vejo, bem distante, uma pequena mancha iluminada no céu que, certamente, não era a Lua.
Na parte “plana” da Terra só se viam os dois prédios das antenas em formato de um tronco de pirâmide que eram pintados de branco e com uma iluminação tênue.
A mancha brilhante era bem pequena e creio que, no primeiro momento, não me importei muito com ela e fui tratar logo de terminar a missão de robô e ir inspecionar os equipamentos que ficavam numa das antenas, sob minha “responsabilidade”, naquele turno.
Terminada a tarefa, que não durava mais que uns dez minutos, comecei a retornar caminhando novamente para a sala de operação onde passava à noite, quase sempre, apertando alguns botões, de vez em quando, e estudando.
Neste retorno comecei a perceber que a macha luminosa começava a aumentar de tamanho lentamente e parecia se aproximar de mim, mas, felizmente, ainda bem distante o que me dava uma vantagem para chegar ao prédio antes de ser abduzido, caso fosse um OVNI.
Lá chegando encontrei um colega no corredor e contei o fato a ele, de forma irônica, dizendo que tinha visto um OVNI.
Ele resolveu sair comigo do prédio para juntos podermos tentar desvendar o mistério.
Pena que na época, embora muitos (como hoje) acreditassem em disco voador, ainda nem se sonhava em poder fotografar ou filmar o evento com um smartphone e enviar para a produção do Fantástico.
Passamos alguns minutos no pátio observando e a luz brilhante aumentava cada vez mais, embora lentamente o que nos dava uma vantagem na corrida, caso fosse necessário, a menos que os homenzinhos verdes fossem campões da São Silvestre.
Não conseguíamos desvendar o mistério e a luz só aumentava.
De repente, não lembro qual dois ou se os dois juntos, descobrimos o mistério e perdemos nossos cinco minutos de fama na tv e a grana que poderíamos ganhar com as entrevistas.
Já pensaram na manchete: -Técnicos da Embratel confirmam que viram um OVNI!
Bem distante do prédio, tinha sido construída uma torre cilíndrica com uns 150m de altura onde havia uma antena de micro-ondas (que não era usada para esquentar comida).
No topo desta torre tinha uma lâmpada bem forte para sinalização. Como, raramente, era preciso ir à esta torre verificar algum equipamento, ela ficava, quase que esquecida, no meio do mato.
Com a noite de breu, uma nuvem havia encoberto totalmente a torre e a luz.
A nuvem, como toda nuvem que se preza, foi se dissipando bem lentamente e a luz foi surgindo distante, também lentamente, dando a impressão aos terráqueos, lá no pátio, que a luz caminhava em direção a eles. Simples assim.
Moral da história: – “I want to believe” (eu quero acreditar).
Ao rememorar esta “ficção científica”, da qual participei há cerca de uns 40 anos, fico na dúvida se, naquela época, eu e meu colega não ficamos desapontados por não termos realmente visto o OVNI.
Será que não estávamos ansiosos para acreditar?
Não posso responder por ele com quem nunca mais tive contato, depois que ganhei a carta de alforria em 1992 e saí da Embratel pedindo para ser demitido do “bom” emprego.
Assim como nas mágicas, a ilusão acaba quando o mágico vai embora.
Naquela noite, o meu mágico, chamado nuvem, foi embora e vida que segue. Devo ter ficado um pouco triste ou, talvez, desapontado. Será que eu não estava mesmo querendo acreditar? Não sei. Nunca saberei.
Como eu disse, eu não vivia o melhor momento emocional da minha vida.
Quantos de nós não distinguimos a ilusão e a crença (acho que usei quase um pleonasmo) e nos valemos delas para aguentar os trancos da vida? Bem aventurados, são eles!
Aí entram os milagres que irão durar o tempo que quisermos, pois não deixaremos o “mágico” ir embora e ficaremos sempre a pedir bis.
Se forem crenças inofensivas, desde que não desacreditem a ciência e não prejudiquem o próximo, tudo bem.
Deixemos a ciência para os cientistas.
Não nos deixemos contaminar pelos negacionismos, mas se, ainda assim, acreditarmos no que não é crível, guardemos essas “crenças” bem escondidas no fundo da nossa alma.
Muito ajuda quem não atrapalha, ensina-nos, sabiamente, o dito popular.
Então, fica combinado assim: – eu fico com os meus “OVNIS” e você fica com os seus bem trancadinhos nas gavetas da alma.
Ah! A Terra não é plana. Galileu Galilei já mostrou isso no século XVI e vacinas salvam vidas!
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