Padrão de tomada brasileiro: Prós & Contras
A polêmica sobre o padrão de tomada brasileiro
Em 2010 o Brasil adotou oficialmente um novo padrão de tomadas exclusivo e que até hoje ainda gera muita polêmica.
Não pretendo neste post ser contra, nem a favor (muito pelo contrário!) até porque não adianta mais chorar pelo leite derramado, o padrão está aí e queira ou não terá que ser seguido.
Uma coisa é certa, no mundo nunca houve uma tomada padrão que fosse usada em todos os países.
Nós nos acostumamos aos padrões americanos (do Norte), designados por A e B, também usados no Japão, talvez porque a maioria dos aparelhos que chegavam aqui vinha de lá, principalmente na época das compras no Paraguai e Miami, e aí ninguém reclamava que a tomada era diferente e tinha que comprar o adaptador.
Lembram que a antiga tomada usada no Brasil, aquela de dois buraquinhos, não permitia ligar a oitava maravilha do Universo, o vídeo cassete, vindo do Paraguai via “importabando”?
Repare que eu disse “padrões americanos” porque na verdade são dois: o tipo A com dois pinos chatos e o tipo B também com dois pinos chatos e um terceiro pino redondo para aterramento.
O terceiro pino era logo cortado pelos “especialistas” já que esse “tal de aterramento não serve pra nada” como todo mundo dizia e diz.
Os mais “cuidadosos” compravam um adaptador do tipo “entra três e sai dois” que era a alegria dos fabricantes e lojistas.
Agora dá uma olhadinha na figura abaixo e veja quantos padrões de tomadas existem no mundo. Se você contou 14 (incluindo o brasileiro), acertou.
E toda a polêmica é só porque o Brasil também resolveu criar o seu?
Por que todos outros países até hoje não resolveram padronizar um padrão de tomadas que fosse universal já que o mundo está globalizado?
Se nós tivermos que atender ao “gosto” de cada um destes países teremos que ter em nossos hotéis 13 tipos de tomadas diferentes. Já pensaram nisto?
E se um brasileiro for para o Paquistão, por exemplo, será que eles vão se preocupar com o nosso padrão de tomada?
Mas, nós “brasileiros bonzinhos” temos que nos preocupar com os turistas que virão para a Copa!
As vantagens do padrão brasileiro
Se analisarmos friamente o padrão de tomadas desenvolvido pelo Brasil é um dos mais avançados do mundo sob o ponto de vista de segurança e nós é que deveríamos impô-lo ao resto do mundo e não ao contrário.
No padrão brasileiro está bem definido qual é o pino da fase e do neutro e a menos que o eletricista (ou melhor, o Zé Faísca: pedrecista = pedreiro + eletricista) desconheça o que é padrão e ligue os fios de qualquer maneira, não há como errar até porque há uma marcação na parte de trás da tomada indicando a função de cada pino.
A turma da terceira idade (e da quarta também!) deve lembrar-se dos rádios valvulados conhecidos como “rabo quente” que, às vezes, davam choque quando se tocava em alguma parte metálica.
A solução dos “especialistas” era: – “inverte a tomada na parede!” já que ninguém se ligava nesse papo de “fase e neutro”.
O terceiro pino deslocado mais para baixo, que é o do aterramento, e que, JAMAIS deve ser ligado ao NEUTRO, faz com que o usuário sempre ligue a tomada de maneira correta, ou seja, fase na fase e neutro no neutro (desde que a instalação não tenha sido feita pelo Zé Faísca).
E aqui abro um parêntese para uma observação importante: – se a instalação é antiga e não possui aterramento deixe este pino sem ligação, mas NUNCA o ligue ao pino neutro (que é o da esquerda olhando a tomada de frente).
Além do mais o baixo relevo da tomada propriamente dita em relação à parede trás uma segurança adicional quanto à proteção do usuário (principalmente crianças) de choque elétrico (uma ideia que considero uma das melhores).
Prós & contras do padrão de tomada brasileiro
Até aqui falei das vantagens do padrão de tomada brasileiro o que certamente deve incomodar a muita gente.
Parece que a maior bronca é: por que agora eu tenho que trocar as minhas tomadas?
Vou relembrar dois fatos que os mais “antigos” (como eu) devem conhecer.
O primeiro refere-se à frequência da rede elétrica que, pelo menos, no Rio de Janeiro era 50 Hz.
Na década de 60 começou o forte processo de americanização do Brasil e com ele a necessidade de conversão da rede elétrica de 50 Hz (padrão europeu, até hoje) para 60 Hz (padrão americano).
Com esta mudança os técnicos reparadores ganharam um dinheiro extra para trocar a buchinha dos toca discos de vinil para acertar a rotação (e ninguém reclamava).
O segundo fato ocorreu lá pela década de 80 quando começaram a chegar ao Brasil os vídeo cassetes e o Atari em NTSC que fizeram a alegria das oficinas e técnicos que também ganhavam um dinheirinho extra para adaptar para o sistema de cores (PAL-M) adotado no Brasil (um híbrido do sistema alemão com o americano/japonês).
Abri o post dizendo que não era contra, nem a favor e até aqui parece que só fui a favor, então vejamos a minha bronca.
Pra quê dois tipos de pinos diferentes nas tomadas brasileiras?
No meu ponto de vista um “erro” da tomada brasileira foi à criação de dois padrões diferentes quanto à amperagem das tomadas.
Por que tomadas para 10 A e para 20 A com diâmetro dos pinos ligeiramente diferentes (4 mm e 4,8 mm)?
Uma justificativa plausível seria a de obrigar o consumidor a separar as tomadas de uso geral (TUG) das tomadas de uso específico (TUE) como micro-ondas, lavadoras e chuveiros, por exemplo.
Correto. Assim deveria ser, mas as pessoas não estão preparadas para o mundo tecnológico ao qual estão sendo empurradas, pois a escola que deveria preparar para vida não as prepara (estas coisas deveriam ser ensinadas nas aulas de física, por exemplo).
Então, o que quase todo mundo faz? Força um pouquinho a barra e a tomada de 10 A vira uma de 20 A em fração de segundos (e quando a casa pegar fogo diz que foi um curto circuito).
Não basta trocar a espessura do pino da tomada.
É fundamental que o consumidor seja alertado de que a fiação e o disjuntor devem estar adequados à corrente que vai circular por eles (cadê as aulas de eletricidade do ensino médio?).
Para isso deveria servir também a mídia em vez de ficar anunciando bobagens e glamurizando bandidos (dos dois tipos!).
Se o consumidor não for alertado para estes fatos pode estar a preparar o incêndio do futuro, mas não por curto circuito (como costumam noticiar) e sim, por uma instalação mal dimensionada (ou feita pelo Zé Faísca).
Outra questão a qual eu faço uma crítica é a inversão na posição de fase e neutro entre o padrão americano e o nosso. Só contribuindo para gerar confusão.
Agora é tarde, Inês é morta!
O fato é que a tomada brasileira está aí e toda mudança traz certo desconforto no início.
Entretanto, se temos que conviver com ela que o façamos da melhor maneira possível orientando nossos clientes, parentes e amigos corretamente.
Evitemos adaptadores uns sobre os outros comprados nos camelôs da esquina (ou mesmo em lojas especializadas). Em vez disso, por que não trocar logo a tomada da parede e fazer a coisa certa?
Hoje estou convencido que mesmo sendo técnico de eletrônica não posso deixar de me envolver com questões básicas de instalações elétricas e por isso, tenho escrito sobre este assunto no site.
Os equipamentos eletrônicos estão cada vez mais exigentes quanto à qualidade da rede elétrica onde são ligados. Uma instalação ruim pode comprometer o seu trabalho e quem vai ser responsabilizado pelo TV que “queimou de novo” será você e não o Zé Faísca.
Pense nisso.
Até sempre.
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