Pra que serve um varistor?
Pra que serve um varistor?
Certamente você já encontrou em algum equipamento uma “pecinha” localizada próxima à entrada da rede com o aspecto de um capacitor de poliéster como vemos na fig.1.
É possível também que nesta região existam, além do fusível, algumas bobinas, capacitores e talvez um NTC, entretanto a “pecinha” da fig.1 (às vezes pode ser amarela) não é um capacitor e sim um varistor que costuma atender também pelo “apelido” de MOV ou SIOV.
Aliás, já que mencionei o NTC é importante que você não o confunda com o varistor já que fisicamente são parecidos (geralmente pretos ou verdes).
Mas, pra que serve um varistor, é o que o menos experientes devem estar querendo saber.
O varistor ou MOV é na verdade um VDR, isto é, um resistor dependente da tensão, e eu diria que ele poderia ser chamado de “anjo da guarda” dos equipamentos eletrônicos e já explicarei por que.
Quando eu digo “anjo da guarda” estou querendo dizer “dispositivo de proteção”. Mas, isto não é a função do fusível?
Sim, até certo ponto, primeiro porque o fusível é um “anjo da guarda” um pouco “lerdo” se comparado ao varistor.
Um fusível para abrir (ou queimar como dizem por aí) precisa que passe por ele uma corrente maior do que suporta o fio com o qual foi fabricado a fim de que ele rompa por aquecimento e isto pode levar um tempo relativamente “grande” (alguns milissegundos). Existem até fusíveis projetados propositalmente para “demorar a queimar”. São os chamados fusíveis de ação retarda, mas isto é conversa para outro dia. Voltemos aos varistores antes que percamos o rumo da prosa.
E o que precisamos, às vezes, é um “anjo da guarda” the flash que entra em ação bem rapidão.
De certa forma os varistores podem ser enquadrados na categoria de “resistores especiais” sobre os quais eu cito alguns no capítulo 7 do meu livro “Eletrônica para Estudantes, Hobistas & Inventores”. Naquele capítulo eu não falei sobre os varistores para não “sobrecarregar” a cabeça dos iniciantes, por isso sugiro que, se você adquiriu o livro, acrescente este post a ele (se ainda não tem o livro, não sabe o que está perdendo!).
Depois deste rápido plim-plim, vejamos como um varistor funciona.
Primeiro é preciso que você seja informado que os varistores são dispositivos semicondutores daí a sigla MOV que significa Metal Oxide Varistor e, portanto tem um comportamento completamente diferente de um fusível ou mesmo um NTC/PTC embora eles sejam considerados “resistores”. Vale ressaltar aqui que estes resistores são chamados “não ôhmicos” por que não obedecem a primeira Lei de Ohm.
Os varistores apresentam uma resistência extremamente alta (praticamente infinita) em condições “normais”, entretanto esta resistência cai bruscamente a valores próximos de zero ohm em um tempo inferior a 25 nano segundos quando submetidos a um pico de tensão maior do que especificado para cada um.
É aqui que entra a importância do varistor como um protetor de circuito.
Distúrbios na rede elétrica causados, por exemplo, por descargas atmosféricas de alta intensidade de energia, fazem surgir nela surtos de alta tensão também chamados spikes ou transientes num intervalos de tempo extremamente pequeno. Veja a fig.2
Estes surtos se não forem eliminados imediatamente antes de atingir o circuito propriamente dito certamente produzirão grandes danos bem graves.
Na fig.3 temos o diagrama em blocos mostrando a instalação de um varistor.
Como funciona
Observe na fig.3 que o varistor está instalado em paralelo com a rede elétrica (L e N) logo após o fusível que está em série com o lado “vivo” da rede (atenção Zé Faísca, por isso é importante ligar corretamente a tomada brasileira que manda a ligar o vivo no vivo e o neutro no neutro!).
Se surgir um transiente de alta tensão na rede, mesmo que num intervalo de tempo extremamente pequeno, a resistência do varistor deverá cair instantaneamente para um valor próximo de zero fazendo com que o fusível abra (“queime”) pela alta energia nele e deste momento em diante a fonte não recebe mais tensão da rede graças ao “anjo da guarda the flash” chamado varistor.
Reparando a fonte da impressora Lexmark E-260N
Para ilustrar a importância do varistor em um equipamento vou contar um “causo” verídico que aconteceu comigo recentemente e me inspirou para escrever este post.
Recentemente fui “convocado” para reparar uma impressora Lexmark E-260N que estava “mortinha da silva”, ou seja, não acendia nem um ledizinho para mostrar que ainda havia um sopro de vida naquela enferma impressora.
O dono não sabia o que tinha acontecido. Chegou segunda feira para trabalhar e encontrou a “defunta” lá. Certamente o crime ou a morte súbita tinha ocorrido no final de semana, portanto sem testemunhas.
Minha primeira providência, obviamente, foi trocar o cabo de força por um comprovadamente bom porque não costumo começar a procurar chifres em cabeça de burro e parafraseando uma antiga comediante da tv que dizia “só abro a boca quando tenho certeza” eu “só abro um equipamento quando tenho certeza que precisa abrir”.
Para minha tristeza e felicidade deste post, não funcionou.
Provavelmente deveria haver, no mínimo, um fusível “queimado”. Cadê o fusível? O fabricante o escondeu bem escondidinho, porque assim o conserto fica caro, o dono desiste, compra outra e ajuda a poluir o planeta com mais um lixo high tech no fundo de um rio.
Expressando meus pensamentos e partindo para confronto
X#*&&! (impublicável), tenho mesmo que desmontar esta %90w9i%%3 desta impressora e se não há remédio, então remediado está.
Mãos a obra. Depois de retirar várias partes do gabinete e trocentos parafusos a fonte apareceu e o fusível também do ladinho da tomada de força como se vê na fig. 4.
Multímetro na mão, na escala de continuidade, ávido para não ouvir o apitinho e faturar o meu. Estava lá, #4%(@*, o maldito apitinho denunciando, para minha tristeza, que o “o fuzil tava bão”.
Antes de sentar e começar a chorar feito criança que perdeu seu brinquedinho novo, resolvi “esticar” meu olhar pela placa e encontrei mais um fusível escondidinho atrás de um relé que você vê na fig. 5.
Desta vez foi só alegria. Sem apitinho, logo o fusível estava “queimado”!
A pergunta que se faz nesta hora deve ser: – foi crime ou suicídio?
Se foi suicídio, ou seja, o fusível queimou por uma desilusão amorosa, a substituição do infeliz por outro fará o aparelho voltar a funcionar.
Era o que eu iria fazer, mas devemos ter muita calma nesta hora e sem lâmpada série não dá pra ser feliz.
A placa ainda estava presa na blindagem e não dava pra ter acesso ao outro lado para tirar o fusível que está soldado na placa.
Ansioso para descobrir se era crime ou suicídio, soldei um pedacinho de fio jampeando o fusível e liguei a encrenca, através da lâmpada série, é claro, que eu não sou bobo.
Bingo! A lâmpada só não acendeu mais forte porque sua potência era 60W.
Conclusão: – não foi suicídio, foi crime mesmo. Será que o “descon” (assassino) deixou evidências? (já perceberam que eu sou aficionado de Criminal Minds).
Todo técnico reparador deve ter uma veia de investigador o que inclui olfato e olhar apurado.
Veja só na fig. 6 o que encontrei após seguir a trilha que saia do fusível “queimado”.
A região carbonizada escondida entre os dois capacitores azuis do filtro de linha colados um ao outro, não deixava dúvida que o crime tinha sido realizado por um surto na rede elétrica no final de semana e, portanto sem testemunhas. Mas não existe crime perfeito.
Se olharmos a fig. 6 onde está a seta vermelha veremos uma peça preta. Na verdade era um encapsulamento em espaguete termo retrátil onde os varistores costumam ser “escondidos” pelos fabricantes.
Uma questão se segurança. Às vezes o varistor explode e pode provocar um incêndio.
Retirada a “capa preta” lá estava o varistor que você vê na fig.7.
Retirei o varistor da placa, deixei o “FIOsível” lá e liguei a placa novamente via lâmpada série, é claro!
A lâmpada nem piscou, bom sinal. Algumas medições no conector mostraram as famosas tensões de 5, 12 e 24V. Aleluia!
Mas, pera aí. Pode ligar sem o varistor?
Poder pode só que NUNCA se deve entregar o equipamento sem colocar outro no lugar.
Lembre-se, o varistor é o anjo da guarda. O criminoso, neste caso, foi um surto na rede elétrica, mas se você não colocar outro varistor no lugar você pode passar a ser cumplice no futuro se outro surto voltar a ocorrer.
A hora mais difícil, comprar o varistor
Eu, particularmente, sempre resolvi este problema graças a uma vasta sucata que eu tenho e nunca procurei nas lojas por este componente.
Atualmente raramente faço manutenção em “coisas modernas” e não sei como anda o mercado.
Por curiosidade fui procurar na Internet o varistor desta impressora pelo código que aparece estampado nele “TVR 14241” e achei para vender pelo Mercado Livre. Como disse resolvi o problema graças a minha sucata.
A maior preocupação que você deve ter é usar um varistor retirado de um equipamento que trabalhe com a mesma tensão de rede do que está sendo reparado.
Existem diversas outras especificações, mas isso fica por conta do projetista.
Dá para testar um varistor?
Testar propriamente não, porque seria parecido com o método usado para testar fósforo. Se acender é porque estava bom!
Dizem as más línguas que este método foi inventado por um cientista japonês chamado Manuel Joaquim!
Brincadeiras a parte, no caso do varistor podemos medir a resistência ôhmica do dito cujo e o resultado deve ser infinito se ele estiver bom. Se medir algum valor de resistência, geralmente baixo ou zero, precisamos trocar o “anjo da guarda”, pois este não está mais dando conta do recado.
Pensando bem, não precisamos nos preocupar com medições. Retirou da placa, ligou (com a lâmpada série), funcionou, então “era ele” o criminoso.
Até sempre
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