Professores, Escolas e COVID-19
Neste ano da pandemia da COVID-19, farei minha homenagem aos professores, no dia que lhes é dedicado, com uma paródia que fiz para a canção Nos Bailes da Vida de Milton Nascimento e que chamei de Nas Escolas da Vida, mas farei um suspense (ou seria um spoiler?) e a deixarei para o final da prosa.
Já que falo de professores vamos ver o que aprendemos com a pandemia do novo corona vírus e se vai ser suficiente para “passar de ano”.
Pois é, e de repente um vírus estranho e tão invisível quanto aquele que ataca nossos computadores foi chegando de mansinho e quando demos conta já fazia parte da nossa “vida normal”.
E de repente também, muitos professores, cujo “dia” comemoramos hoje, e estavam acostumados a “ensinar nas salas de aula da vida” tiveram que “aprender a ir aonde o aluno está” parafraseando um verso da canção de Milton Nascimento – “todo artista tem que ir aonde o povo está”.
Pensando bem, um professor é um artista ou não?
Afinal, tentar fazer alguém aprender algo novo deve ser, antes de tudo, uma arte e não apenas uma mera profissão “em troca de pão”.
Talvez caiba aqui um parêntesis à guisa de uma “explicação” sobre o que se deve entender como arte, nestes tempos, em que mentes obtusas, tentam negar sua importância nas escolas desvalorizando-a e menosprezando aquilo que “dá vida” à vida.
Platão nos “ensina” que não existe arte e sim, artes, e dentre elas, ‘todas as maneiras de saber fazer’ incluindo-se, portanto, e por que não, os professores, talvez como um artista, deste grande “circo místico” que é a vida e que precisa “aprender” cada vez mais a ser multifacetado.
Mas, voltemos a questão das aulas das escolas que tiveram que deixar de ser presenciais e, paradoxalmente, professores e estudantes foram descobrindo que nem tudo era tão fácil de se fazer digitalmente como parecia.
Descobriu-se que a vida é “real”, não é virtual.
Começamos a perceber, que viver de verdade é uma atividade “antiga e analógica” e não se resume aos emojis e figurinhas que enviámos freneticamente pelo zap-zap.
Os alunos, que durante as aulas presencias, queriam tanto usar os celulares em vez de ouvir o que o professor falava, foram descobrindo que fazia falta ir à escola que para muitos, além de “encher a barriga”, deveria também “encher o cérebro”.
Descobriram que iam a escola não apenas para aprender que o “sujeito oculto” não é aquele que está usando máscara ou que a “menor distância’ entre duas pessoas é uma reta que deve medir dois metros, porém que o contato com humanos faz falta principalmente para as criancinhas.
Para estas, em particular, a escola não só ensina o a-i-o-u e que dois mais dois são quatro, mas serve de ambiente de “socialização” e por que não, de um lugar “seguro” enquanto os pais vão trabalhar.
No início foi até legal, umas feriazinhas fora de hora, mas depois de tanto tempo, trancado dentro de casa, foi ficando complicado.
Fomos descobrindo, pouco a pouco, que a Internet que todo mundo usa para tudo, para os “menos favorecidos”, eufemismo para “abandonados pela sociedade”, só servia mesmo para repassar Fake News e engordar a conta bancária do “sujeito oculto” por trás delas.
Descobriu-se que o sujeito-aluno, das periferias, não estava oculto, apenas esquecido.
Aqueles “sujeitos ocultos” finalmente apareceram ou passaram a ser vistos com ou sem máscara, mesmo que os professores de português, não precisassem ensinar, ao vivo ou online, como encontrá-los na “oração”.
Para muitos alunos a “oração” não era composta, era “simples”: – Valha me Deus! – na ESPERANÇA de que a COVID-19 não a alcance e que ela seja a última a precisar de uma UTI e … morrer.
Depois de muitos “protocolos”, a discussão shakespeariana, finalmente se instalou e tomou conta da sociedade e dos tribunais – abrir as escolas ou não abrir, eis a questão!
Querem saber de uma coisa, que abram as escolas, quem quer ir que vá, quem não quer não vá, parece estar sendo a decisão que não é nada salomônica ou é?
Vencido este dilema, talvez pelo cansaço, novamente Shakespeare ressurge e pergunta – reprovar ou não reprovar, eis a questão?
Juntar dois anos em ano um tipo promoção de supermercado – “leve dois e pague um”?
Oh! Shakespeare, nos ajude em tantos dilemas!
No fim deverá prevalecer o bom senso que, como disse Descartes, é a coisa mais bem distribuída deste mundo, pois todos acham que o tem na medida certa.
E o bom senso dirá o mesmo que o Ministro – “deixa passar a boiada”.
Afinal se o problema é um mera questão de certificado, depois a gente o enfeita com um curso que não existe ou não se fez, como está tão na moda.
E assim, como diz a canção de Luiz Gonzaga “lá vai passando a procissão se arrastando feito cobra pelo chão” e junto com ela, a boiada, não aquela do Salles, mas a dos “menos favorecidos” aguardando a “imunidade de rebanho”, já que estamos a falar de bois, ou a vacina, na ESPERANÇA, que é a última a morrer, como diz o clichê, já tenha saído viva da UTI e possam voltar às salas de aula, professores e alunos.
Enquanto isso, vamos aproveitando as praias que o calor já chegou e ninguém é tão Caxias assim, fora do Planalto.
Agora, minha paródia Nas Escolas da Vida.
Foi nas escolas da vida
Em troca de pão
Que muita gente boa pôs os pés na profissão
De ensinar
Não se importando, às vezes, se quem estava ali queria aprender
Foi assim
Ensinar era mostrar o caminho
Que vai dar no sol
Tenho comigo as lembranças do que eu fazia
Para chegar às escolas
Em pé, dentro de um ônibus lotado
Para ensinar, nada era longe, tudo tão bom
Era assim
Com a roupa encharcada e a alma
Repleta de sonhos
Todo professor tem que ir aonde o aluno está
Sempre foi assim, assim será
Ensinando me disfarço e não me canso
De viver e ensinar!
Feliz Dia dos Professores!
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