Qual o melhor multímetro analógico para testar transistores?
Esta é uma pergunta que toda hora me fazem – qual o melhor multímetro analógico para testar transistores?
Há tempos penso em escrever sobre o assunto, mas o meu projeto do Clube Aprenda Eletrônica com Paulo Brites tem me consumido “48 horas” por dia e principalmente durante este mês, quando resolvi construir minha plataforma de EAD aqui dentro do site.
Estou quase chegando lá e espero até o final de março colocar, pelo menos, a versão beta funcionando.
Se você está interessado, fique de olho. Você vai gostar das novidades e principalmente porque não terá mais a Monetizze como intermediário, o que me trouxe mais problemas do que soluções.
É o velho ditado, se você quer ver alguma coisa funcionando, então não peça a ninguém para fazer para você, faça você mesmo.
Mas, vamos ao “prato do dia” que é: – Qual o melhor multímetro analógico para testar transistor?
É sempre bom recordar, porque recordar é viver
Quando eu decidi comprar meu primeiro multímetro profissional, lá por volta de 1967, eles eram conhecidos pela sigla VOM (Volt-Ohm-Miliampères) e os transistores ainda não haviam dado o ar de sua graça aqui pela terrinha.
Na aquela época a preocupação com a escolha de um VOM era com a especificação conhecida por “ohms/volt”.
Os mais simplesinhos ficavam nos 10 ou 20kOhms por volt, enquanto uma boa escolha, neste item, seria optar 50kOhms por volt.
Vária marcas (importadas) podiam ser encontradas por aqui, dentre elas tínhamos Sanwa, Simpson e Triplet para citar algumas top de linha.
Creio que passei uns dois ou três meses pesquisando e juntando o dinheiro para conseguir um Sanwa 320X (que ainda me acompanha até hoje) embora preferisse o Simpson 260, mas o dinheiro do “porquinho” não era suficiente.
O Sanwa 320X tem mais uma escala ôhmica de 100 Mega Ohms que em outros multímetros pode ser identificada como “x10K”.
Mas, não era esta escala que mais me preocupava, embora naquela época, ainda dos valvulados, era comum encontrarmos resistores ohmicamente “bem nutridos” nos circuitos.
O que me preocupava mesmo eram os “ohms por volt” e já vou explicar porque.
Talvez eu deva começar lembrando que um multímetro analógico é, por construção, um amperímetro, enquanto os digitais, já “nascem” voltímetros.
Acho que já escrevi sobre isso por aqui e como diz a música do falecido Renato Russo (Legião Urbana) “já morei em tantas casas que nem me lembro mais, e eu “já escrevi tantas coisas que nem me lembro mais”. Sugiro procurar no meu e-book Eletrônica para Estudante, Hobistas & Inventores, acho que está lá.
A corrente de fundo de escala do multímetro analógico, quanto menor melhor
Todo mundo sabe (ou deveria saber) que para medir correntes o “medidor” deve ser colocado em série com o circuito, enquanto medir tensão implica em colocá-lo em paralelo.
Quanto menor a corrente de fundo de escala que o amperímetro do analógico puder medir melhor será em termos de sensibilidade.
Para quem não sabe, corrente de fundo de escala, é o valor máximo que pode ser medido e que provoca o deslocamento total do ponteiro (sem queimar sua frágil bobina móvel).
Assim, se quisermos medir uma corrente de 10 microampères, por exemplo, e nosso instrumento for fabricado para uma corrente de fundo de escala de 100 microampères o ponteiro se deslocará apenas um décimo da trajetória total no painel.
Por outro lado, um instrumento fabricado para 10 microampères de fundo de escala pode ser facilmente “transformado” em um que mede correntes maiores colocando-se resistores shunts em paralelo com o galvanômetro (nome técnico do “reloginho”) como vemos na figura 1.
Com este “truque” faremos com que o “grosso” da corrente passe pelo shunt mantendo sempre o galvanômetro recebendo a corrente de fundo de escala permitida para ele.
Transformando amperímetros em voltímetros e os tais dos “ohms por volt”
Se quisermos medir uma tensão não podemos simplesmente colocar o galvanômetro em paralelo a menos que o valor desta tensão seja o que produz o deslocamento do ponteiro sem fumacinha.
E aqui, aqui vale lembrar que o valor desta tensão é bem baixinho pois é o resultado da multiplicação da corrente de fundo de escala pela resistência ôhmica da bobina móvel, ou seja, a famosa Lei de Ohm que nenhuma “emenda constitucional” conseguirá derrubar.
Sedo assim um galvanômetro “in natura” não tem muita utilidade, a menos que apliquemos o truque do shunt em série como mostra a figura 2.
Repare só, no exemplo da figura 2 que o galvanômetro “puro” sem os resistores shunt em série poderia medir, sem fumacinha, uma tensão máxima de 24mV (20uA x 1k2) o que, sob de vista prático, não serve para nada.
Porém, ao colocarmos os resistores em série para “ampliar” os valores de tensão a serem medidos criamos um probleminha.
A resistência do shunt somada a resistência da bobina ficará em paralelo com a resistência do circuito onde a tensão está sendo medida.
O resultado de duas resistências em paralelo dá sempre um valor menor que a menor resistência do circuito, provocando um erro na leitura.
Para evitar este erro é preciso que a resistência do shunt seja, no mínimo, dez vezes maior que a resistência do local onde estamos medindo a tensão.
Assim, quanto maior os “ohms por volt” menor será o erro de leitura provocado pelo instrumento.
Naquela época ninguém estava preocupado em testar transistores e sim em medir resistências de valores ôhmicos grandes e medir tensões em cima de resistores de grandes valores ôhmicos.
Para juntar as duas coisas o VOM precisava ter uma corrente de fundo de escala baixa o que implica, indiretamente, no valor “ohms por volt”.
E os transistores chegaram
Quando estas “criaturas” chegaram foi um “Deus no acuda”, porque ninguém sabia direito (nem torto) como aquela coisa de “três perninhas” funcionava.
Era 1967 e eu estava no segundo ano do curso técnico. Meus professores de eletrônica, eram dois alunos de engenharia do IME que estavam mais perdidos do que trabalhador em tiroteio no Rio atualmente. Eles preocupados com o “sexo dos elétrons” e eu querendo saber como se polarizava “aquilo’, da mesma forma que eu havia aprendido (e muito bem) a fazer com os tríodos e pêntodos.
“Não prestou”, como se diz por aí, bati de frente e eles “vazaram”.
Mas, eu não desisto nunca. Mesmo sem “São Google” fui garimpando aqui ali e descobrindo o caminho das pedras que hoje tenho muita satisfação ao socializar minhas descobertas com todo mundo que quer aprender para valer.
Quebra a cabeça daqui e dali e foi-se “descobrindo” que podia-se testar transistores com a escala ôhmica dos multímetros analógicos.
E aí surgiu a “técnica” de medir a resistência entre base-emissor, base-coletor e coletor emissor. Medir resistência “uma ova”, como diziam os antigos e você já vai entender porque.
Não vou descrever os métodos de testar transistores aqui porque não é este o objetivo deste post e sim qual o melhor multímetro analógico para testar transistores.
Depois de tantas voltas, você estar pensando que eu perdi o caminho da roça, mas não perdi não e você já vai ver.
Uma coisa leva a outra
Surgiram, então duas lendas, que perduram até hoje.
Uma delas diz que o melhor multímetro para testar transistores é o que tem escala de resistência “vezes 10k” ou 100 megohms como Sanwa 320X, por exemplo.
A outra lenda é que o multímetro precisa ter a famigerada bateria de 22,5V.
Há quem diga também que o melhor é aquele que tem o maior valor de “ohms por volt”.
Todas estas lendas são verdadeiras, mas fundamentas em quê?
O que estamos medindo na verdade quando testamos um transistor com a escala ôhmica não é a resistência das junções, até porque você acabou de aprender que o VOM não mede resistências e sim, correntes.
Sempre gosto de dizer que a corrente disse para tensão “eu não existo sem você” e quanto maior você for, tensão, maior corrente eu poderei ser. Romântico, não é?
Confuso?
Hora de entender como funciona o ohmímetro analógico.
Que tal uma olhadinha na figura 3.
Temos uma pilha alimentando o micro amperímetro e um reostato que servirá para ajustar o zero, ou seja, quando unirmos os dois terminais marcados “ohms” o ponteiro se deslocará para a direita e com o auxílio do reostato em série ajustaremos a posição do ponteiro no zero ou fundo de escala.
A partir daí uma “resistência” colocada entre os terminais “OHMS” provocará um deslocamento proporcional de acordo com a “irrevogável” Lei de Ohms. Com isto, “fingimos” medir resistência, mas na verdade o que medimos foi a corrente no circuito.
Voltando a “declaração romântica” da corrente para a tensão, concluímos que se a corrente de fundo de escala do micro amperímetro for bem pequena, precisaremos de uma bateria mais “robusta” para fazer o ponteiro se deslocar totalmente quando a resistência a ser “medida” for muito grande.
Este é um verdadeiro exemplo do “atirou no que viu e acertou no que não viu” também conhecido como “bala perdida”.
Ao fabricar multímetros analógicos com micro amperímetros com corrente de fundo de escala bem pequena, para resolver o problema dos “ohms por volt”, os fabricantes estavam adivinhando o futuro e fazendo com que seus instrumentos se tornassem, anos mais tarde, os queridinhos dos técnicos para testar transistores.
Mais uma lenda – Tem que inverter as ponteiras do multímetro
Esta é também uma daquelas coisas que, a maioria das pessoas, faz sem saber porque.
É o que eu chamo de “efeito Maria vai com as outras”.
Esta “necessidade” de inverter as ponteiras para testar o transistor ocorre porque, na maioria dos analógicos, o terminal negativo da bateria interna do multímetro, acabava ficando no terminal positivo da escala de tensão.
Em outras palavras, o borne vermelho deixa de ser o positivo do galvanômetro, assim como o preto deixa de ser o negativo, quando a chave seletora é movida para a escala ôhmica. Acompanhe o que eu disse olhando a figura 3.
O teste de transistores com multímetro digital é confiável?
Eu diria, sim e não, aí depende.
Depende de que?
Do equipamento que você está consertando.
Em primeiro lugar é preciso que você tenha em mente que o princípio de funcionamento dos digitais é completamente diferente dos analógicos. Aliás, eu já falei disso lá no início, mas pode ser que sua “vaga lembrança” não lembre mais e por isso, estou repetindo mais uma vez este mantra.
Então, se multímetros digitais são voltímetros, quando usamos a escala de diodos para testar transistores não estamos medindo as correntes que circulam nas junções e sim as barreiras de potencial das mesmas o que no primeiro momento pode ser útil.
Entretanto, transistores, principalmente os mais antigos, costumam a apresentar as chamadas “fugas” quando vão ficando velhos (que nem a gente).
E nessa hora que entra o analógico que usa bateria de 22,5V ou que tem escala x10K ou ainda com “ohms por volt” bem grande. Depende da lenda que você quiser escolher.
O que eu faço?
Começo com um digital que está sempre à mão. Se der “ruim” nem preciso me preocupar com testes mais sofisticados.
Se der “bom” é hora de colocar as barbas de molho (ainda bem que uso barba). Talvez um teste mais aprofundado com meu Sanwa 320X possa me revelar algum “mal de Parkinson” no transistor.
Se o equipamento está ligando (sem fumacinha) eu prefiro as medidas de tensão “em volta” do transistor. Já escrevi um artigo aqui no blog falando deste método. Não estou falando em conferir tensões com esquemas e sim nas quedas de tensão nas junções.
Isso vale para equipamentos antigos. Para os de hoje em dia tem que ter cuidado com os transistores digitais. Também já escrevi sobre isso por aqui, é só procurar.
Afinal, qual o melhor multímetro analógico para testar transistores?
Os fabricantes de multímetros não consertam equipamentos e como eu disse, não fabricaram analógicos para testar transistores.
Com a proliferação dos digitais que podem ser fabricados em larga escala e por preços cada vez mais baixos, mesmo que a qualidade deixe a desejar, os fabricantes não têm mais interesse em fabricar analógicos com micro amperímetros de baixa corrente porque fica muito caro e não vende.
Ninguém vai pagar mil reais ou mais por um analógico só para testar transistores “duvidosos” uma vez ou outra. Nem eu pagaria mesmo que tivesse dinheiro sobrando o que não é o meu caso.
Se você achar um analógico dos bons na bacia das almas, não hesite. Compre-o, nem que seja para colocar na cristaleira da sala (se a dona encrenca deixar).
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