Ressuscitando o multímetro Hioki AS-100D
Antes de tratar efetivamente do assunto deste post, que é sobre uma destas joias raras da eletrônica e cobiçada pelos reparadores, quero dar aos meus leitores uma justificativa sobre o meu “sumiço” com relação a matérias como esta com foco na reparação que é um dos objetivos do blog.
Aqueles que me acompanham sabem que lancei um projeto, que eu considero audacioso, que é o Clube Aprenda Eletrônica com Paulo Brites.
Se você está “chegando” agora na confraria e não sabe do que se trata (e quer saber) CLIQUE AQUI.
Voltando ao projeto Clube Aprenda Eletrônica com Paulo Brites digo que ele é audacioso porque foge aos padrões tradicionais do que vemos por ai nos cursos, sejam eles presenciais ou a distância, e nele eu pretendo mesclar eletricidade, eletrônica e matemática sempre com um olhar na teoria, que considero fundamental, mas se menosprezar a prática.
E não se assuste quando eu falo em matemática porque não será aquela do “x e y” que tentaram lhe ensinar e, na maioria das vezes, você nunca soube para que serviria “aquilo”. Falo da matemática com o olhar da aplicação prática no mundo real.
A primeira fase que era de estruturação já está concluída e o projeto já está no ar, agora vai ficar um pouco mais fácil (assim espero) e sobrará um tempinho para alimentar o blog bem como continuar escrevendo meus e-books e aqui vai um segredinho, dois títulos já estão em andamento. Um que trata da “temida” eletrônica digital e outro sobre leitura de esquemas eletrônicos (atendendo a pedidos).
Esclarecimentos feitos sobre o “sumiço”, vamos ao “causo” do dia:
Ressuscitando o Hioki AS-100D.
Um amigo ganhou este multímetro analógico “du bão” de um técnico que aos 80 anos resolveu pendurar as chuteiras, ou melhor, os multímetros e afins. Tão jovem e desistindo da profissão apaixonante. Eu nem penso nisso, mas deixa pra lá.
Há algum tempo atrás o bichinho tinha levado uma queda e ficou um pouco tonto, ora lendo, ora prendendo o ponteiro o que levou o “jovem” técnico aposentá-lo (o multímetro) por tempo de serviço, antes que a reforma da previdência viesse!
O “sobrevivente” da queda chegou as minhas mãos sem a fatídica bateria de 22,5V bem como as duas pilhas médias de 1,5V. Até ai nada demais. Não precisaria delas para fazer o diagnóstico do enfermo.
O painel de acrílico apresentava uma rachadura bem como a caixa de baquelita, mas que não prejudicava em nada a leitura nem o funcionamento do instrumento.
Começando pela avaliação visual interna e as primeiras medições
Como sempre deve ser nos casos de reparação, seja lá do que for, o primeiro passo deve ser uma boa inspeção visual que neste caso, eu diria que até ali tinha sido animadora, pois não aparentava que resistores tivessem sofrido agressões contundentes e mostrassem sérios “hematomas”.
Passei então a etapa de fazer algumas medições de tensão DC e notei que realmente ao se aproximar do final da escala (à direita) o ponteiro ameaçava prender, mas voltava a funcionar com um pequeno toque com o dedo (peteleco) sobre o painel.
Pelo menos uma segunda notícia boa eu já tinha: – a bobina do galvanômetro estava inteira.
Em princípio, parecia que o que levava o ponteiro a ficar preso seria algum empeno ocorrido com a queda.
Removi a capa de acrílico que protege o display e inspecionei cuidadosamente sem descobrir o mistério, mas ainda não havia me dado por vencido.
Um instrumento como este não pode ser abandonado tão facilmente é temos que ir até as últimas consequências para ressuscitá-lo.
Deixei-o de lado por uns tempos, porque nestas horas eu uso uma técnica de deixar o cérebro trabalhando “nas horas vagas” e quem sabe, até enquanto dormimos.
Ontem, depois que já havia avançado bem nas aulas do Clube e estava menos estressado retomei a empreitada e não foi necessário mais que alguns minutos para descobrir o mistério: – o famoso “fio solto” como dizem os leigos e neste caso era isso mesmo.
A figura abaixo mostra onde estava o problema.
Um dos fios que vai ligado a bobina móvel estava apenas encostado e por algum motivo mecânico quando a dita cuja se movia levando junto o ponteiro ele travava o movimento da mesma além de provocar uma leitura instável por razões óbvias – mal contato…
Bastava um leve peteleco no painel para voltar a funcionar.
Cuidadosamente com mãos de neurocirurgião eletrônico soldei o “fio solto” no seu devido lugar e estava salvo mais um “grande” Hioki AS 100D.
Eu digo “grande” porque dentro da categoria destes multímetros ele possui um galvanômetro de 9 microampères de fundo de escala o que é de dar água na boca a qualquer analógico “moderno”.
Mas ainda não acabou
Feliz da vida por ter “ressuscitado” este instrumento maravilhoso era hora de resolver definitivamente o problema da famigerada (e cara) bateria de 22,5V.
Eu já tratei deste assunto aqui no blog em janeiro de 2015 apresentando um projeto para fazer um conversor DC-DC que “transformava” uma tensão de 9V (bateria) em 22,5V, entretanto dois anos se passaram e de lá pra cá muita coisa mudou.
Desisti de montar a plaquinha porque agora podemos encontrar “uma chinesa” por qualquer 5 “meréis” no Mercado Livre e foi isso que eu fiz.
Outra mudança foi deixar de usar a bateria de 9V que por sinal andam bem carinhas e com pouca qualidade.
Um instrumento destes não vai ser mais transportado na maleta do técnico como nos “velhos tempos”. Ele agora é um instrumento de bancada para “situações especiais”, então porque não usar uma pequena fonte chaveada de 5 ou 9V externamente?
Como ficou a adaptação final
Comecemos dando uma olhada no esquema do multímetro para entender como funciona a bateria de 22,5V.
Observe que a bateria de 22,5V fica em série com duas pilhas médias de 1,5V.
Quando a chave seletora é colocada na posição 100K temos uma tensão total de 25,5V e aí que entra o diferencial destes multímetros permitindo medir resistência da ordem de 100 mega ohms.
Nas demais posições da chave a bateria de 22,5V fica “fora” e apenas as duas pilhas, formando uma tensão de 3V, entram em serviço.
O que eu fiz foi simplesmente soldar os dois fios da saída do conversor nos terminais onde estaria a bateria mantendo as duas pilhas de 1,5V que são relativamente baratas e terão uma durabilidade muito grande.
A seguir fiz um pequeno furo no gabinete para introduzir o plug da fonte externa e “caso encerrado”.
Meu amigo vai ficar feliz da vida como uma raridade destas em sua bancada e eu mais ainda pelo prazer de “ressuscitar os motos”!
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