Testando transistores digitais

Testando transistores digitais

No post anterior “Transistores digitais, como testá-los” eu tratei destes “seres” e chamei atenção de que o teste deles se n se realizado da forma convencional, quer seja com o multímetro digital ou analógico pode levar a conclusões “inconclusivas”.

Einstein disse, certa vez, algo mais ou menos assim: – “problemas novos exigem soluções novas”.

Há uma tendência das pessoas a se acostumarem a resolver as coisas de uma maneira e não aceitarem mudança.

Os técnicos se habituaram a testar transistores de forma estática com o multímetro e parece que não conseguiram, até hoje, entrar no século XXI e se desprender deste método.

Então, lá vai o balde de água fria, isto não funciona mais com os transistores digitais.

E por que não funciona?

Olhe as duas figuras a seguir e veja as “entranhas” de dois transistores digitais típicos, sendo um NPN e outro PNP.

DTC124-min

DTA14T-min

Comecemos com o DTA014T que um PNP.

O que você acha que vai acontecer ser aplicar o multímetro (digital ou analógico) entre o terminal 1 chamado de IN (base) e os terminais 2 denominado GND (emissor) e 3 que recebe a “alcunha” de OUT (coletor) .

Observe que, neste caso, entre o terminal 1 (que está acessível do lado de fora do transistor) não é base propriamente dita, pois no meio do caminho temos, não uma pedra, mas um resistor de 10kohms.

Em outras palavras, quando você aplica a ponteira do multímetro ao terminal 1 você tem um resistor entre ele e a base e obviamente as medidas encontradas não serão aquelas as quais você está acostumado.

Agora passemos para o NPN da ROHM denominado DTC124 e neste caso temos dois resistores. Note que o resistor R2 de 22k (neste caso) está entre a base propriamente dita e o emissor e, portanto a leitura obtida no multímetro será influenciada por este resistor que está em paralelo com a junção base-emissor.

Será que agora você se convenceu que o “método antigo” não funciona com os transistores digitais?

Há ainda mais uma questão a considerar. A medida estática com o transistor no circuito poderá sofrer influencias de componentes periféricos tornando a medida inválida, seja para um transistor digital ou um “convencional”.

No caso dos transistores “normais” ainda é possível retirá-lo do circuito ou pelo menos desconectar dois de seus terminais para fazer medidas a “moda antiga”.

Entretanto se o “suspeito do crime” for um digital ele também será um SMD e a menos que você tenha alguns anos de experiência em micro cirurgias, retirar o transistor do circuito até é possível, o problema é se ele “sairá vivo” depois da cirurgia.

Acho que está na hora de rever suas práticas e se convencer definitivamente que consertar os equipamentos modernos exige conhecimento técnico no que se inclui saber fazer análise do circuito.

Qual a finalidade de um transistor digital?

Se você respondeu que é funcionar como uma chave já ganhou um ponto na prova.

Se é uma chave, então quando a “base” (in) está alta o coletor deverá estar….

E aí, ganhou mais um pontinho? Respondeu “baixa”?

E se a base (in) estiver baixa? Claro que o coletor (out) vai estar alta, professor!

Agora a questão desafio.

Suponhamos que você mediu a zero volt (ou quase) em “in” (base) e também mediu zero volt em “out” (coletor).

Você arriscaria dizer que o transistor está defeituoso?

Muita calma nesta hora! É preciso ver onde este “coletor” está ligado e se este “lugar” não está em curto.

Uma boa dica é desligar o “defunto” da tomada e medir a resistência ôhmica do “coletor” para terra e ver se vai “dar ruim”, ou seja, zero ohms ou quase. Se der pode ser que o transistor possa progredir temporariamente para o regime “semi aberto”, enquanto você continua investigado o ponto onde este “coletor” está ligado.

Sempre defendi a ideia que um técnico reparador tem que ter além de conhecimento, uma veia de Sherlock Holmes, pois um componente defeituoso é um “meliante” que procura de todo jeito enganar os investigadores.

Pense nisso antes de sair “derretendo” a PCI do aparelho com aquele ferro de soldar “old times” de 60W.

Paulo Brites

Técnico em eletrônica formado em 1968 pela Escola Técnica de Ciências Eletrônicas, professor de matemática formado pela UFF/CEDERJ com especialização em física. Atualmente aposentado atuando como técnico free lance em restauração de aparelhos antigos, escrevendo e-books e artigos técnicos e dando aula particular de matemática e física.

Website: http://paulobrites.com.br

5 Comentários

  1. LOURIVAL SANTANA

    Professor estou com um transistor digital que não é SMD e tem o encapsulamento semelhante a um transistor bipolar comum. Desconfiei por causa das medidas que se encaixam nas explicações do seu texto. a referência em seu corpo é C-102 M – 1150, embora no diagrama do aparelho está identificado como KRC 102M. Será que estou confundindo? ABs!

    • Paulo Brites

      Olá Lourival
      É comum os fabricantes simplificarem a inscrição do código no corpo da transistor
      É provável que C-102M seja KRC-102M.
      Eu publiquei no site um artigo com uma tabela de códigos, não lembro o nome
      Se você olhar do lado direito bem no final tem um banner de acesso da lista de artigos, está desatualizado mas é possível que você encontre o artigo nesta lista.

  2. Ricardo Moura

    Muito bom o artigo. Meus parabéns!

    • Paulo Brites

      Valeu Ricardo. muito obrigado pela participação

  3. Wladyslaw Jan Szkruc

    Apenas uma pequena observação: A unidade do resistor (10k no inicio do texto) aparece escrita “kW” ao invés de “kꭥ”.

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