Watt e VA é a mesma coisa?
Watt e VA é a mesma coisa ?
No mundo atual entender um pouco sobre alguns conceitos básicos de Eletricidade passou a ser cada vez mais uma necessidade obrigatória para todas as pessoas.
Dia destes me perguntaram se “watt” e “VA” era ou não mesma coisa?
A dúvida surgiu por causa da compra de um nobreak onde a especificação aparece em “VA” e aí o comprador ao questionador o vendedor, mal informado, (eu chamo de balconista) disse que era a mesma coisa que “os watts” do aparelho que iria ser ligado ao nobreak.
Bem, como eu costumo dizer, “se não sabe ensinar, não ensina” e se não sabe o que está vendendo, então diga nada.
Vou abrir um parêntese na exposição do tema para um comentário.
Quem cursa o Ensino Médio tem vários capítulos na Física destinados à Eletricidade.
E para que serve aquilo que é “ensinado” na escola?
Dizem os especialistas em pedagogia que a escola deve preparar para a vida.
Será que prepara mesmo? Passa-se doze anos na escola e aí todo aquele tempo serviu para que? Pra passar na prova do ENEM e que mais, na vida prática?
Acho que seria melhor se servisse, pelo menos, para você saber comprar um nobreak.
Estamos no século XXI e os currículos ainda estão no século XIX (na melhor das hipóteses).
Agora chega de divagações e voltemos a tratar da diferença entre os watts e os VA´s cujas duas letrinhas são a simbologia de volt-ampère.
Para início de conversa, cabe dizer que ambos, watt e volt-ampère, são unidades de potência elétrica, mas não é a mesma coisa. Em alguns casos, como veremos, os valores de um e do outro poderão até se igualar, mas apenas em alguns casos.
Como se calcula a potência elétrica?
Acho bom começarmos lembrando (ou informando para quem não sabe) que a potência elétrica é calculada multiplicando-se a tensão (medida em volts) aplicada ao aparelho pela corrente (medida em ampères) que o aparelho “puxa”, ou que passa por ele para que funcione.
Isto está 100% correto se dois requisitos forem cumpridos
- A tensão de alimentação e, por conseguinte a corrente forem ambas contínuas;
- A carga (o aparelho) que está sendo alimentada for puramente resistiva.
No caso da nossa rede elétrica o primeiro item não é cumprido, pois como sabemos a tensão de alimentação não é contínua e sim, alternada, embora a carga pode ou não, ser puramente resistiva.
Se tivermos, por exemplo, um chuveiro elétrico ou um ferro de passar roupas, a carga será puramente resistiva e nestes casos a potência será expressa em watts.
Por outro lado, se a nossa carga for indutiva, como um motor, por exemplo, a coisa muda de figura e é aí que vai entrar o VA ou volt-ampère.
Eu disse carga indutiva, mas também poderia se capacitiva ou uma “combinação” das duas, então o mais correto é dizer carga reativa, para diferenciar de carga resistiva.
Quando temos cargas reativas passamos a ter também potência reativa que embora também seja calculada multiplicando-se a tensão pela corrente, neste caso, alternadas, será expressa em volt-ampères reativos, para ficar bem claro que se trata de potência reativa diferentemente da “outra” potência em watts que será chamada de potência real ou potência efetiva.
Então o VA (volt-ampère) é isso?
Não, ainda não é só isso, tem mais uma coisinha.
O VA é o resultado da “soma” da potência real com a potência reativa e vai nos dar uma terceira potência que a potência aparente e está que vai interessar no final das contas.
Reparou que eu coloquei a palavra soma entre aspas?
Fiz isto para chamar a tensão que está soma não é aquela com a qual estamos acostumados e onde 2 mais 2 dá 4.
No caso da “soma” das potencias real e reativa temos uma soma vetorial porque por causa da defasagem entre tensão e corrente num circuito de corrente alternada com resistência e reatância (indutor e/ou capacitor).
Não irei entrar em detalhes aqui de como se faz esta soma vetorial porque não vem ao caso no momento e também não é importante discutirmos esta questão da defasagem..
O que interessa saber é que a “soma” da potência real com a potência reativa irá nos fornecer a potência aparente e é esta que é medida em VA (volt-ampères) e, portanto a que está especificada no nobreak, diferentemente da que aparece nos aparelhos e que está em watts.
De uma forma resumida podemos escrever
VA = W “+” VAR
Da expressão acima já podemos concluir que VA não será igual W, ou seja, os watts do aparelho que será ligado ao nobreak, a menos que o VAR da “soma” acima seja zero.
Ora, VAR só será zero se a carga (aparelho) for puramente resistiva como já vimos, e eu creio que você não pretende ligar o chuveiro elétrico ou o ferro de passar roupas no nobreak.
Logo de alguma maneira teremos que levar em conta o VAR e, portanto, W não será igual a VA.
E como vamos saber o valor de VAR?
Aqui entra o conceito de fator de potência
A situação ideal seria aquela em que não haveria potência reativa, pois assim toda potência aparente ficaria igual a potência real, em outras palavras, a potência reativa é um desperdício de potência que não é aproveitada.
A potência reativa surge, como eu já disse, por causa da defasagem entre a tensão e a corrente quando temos elementos reativos como indutores e/ou capacitores.
A relação entre a potência real e a potência aparente é conhecida com fator de potência.
Fórmula para calcular Fator de Potência
Na melhor das hipóteses o fator de potência será igual a 1 e então a potência real fica igual a potência aparente, ou seja, neste caso “watt = volt-ampère”.
Na prática o fator de potência é menor que 1 e quanto menor esta valor pior, pois significa que estamos desperdiçando muita energia em forma reativa o que faz a energia aparente, que é o que interessa, fique menor.
Para simplificar as contas podemos escrever assim,
Suponhamos que o fator de potência de um equipamento seja igual a 0,8. Se você tem uma potência real de 400W, então você precisará de um nobreak de 400/0,8 = 500VA.
Repare que o nobreak sempre terá que ser de um valor de potência em VA maior que a potência real em watts do que vai ser ligado a ele porque, na prática, o fator de potência é um número menor do que um.
Como nem sempre temos a informação do valor do fator de potência uma boa prática seria comprar um nobreak com valor 25 a 30% maior que a potência real estimada, assim se o fator de potência for maior que 0,8 (o que, em geral, é raro) seu nobreak irá funcionar com folga. É melhor sobrar do que faltar, pois o que abunda não prejudica.
Uma maneira de fixar estas ideias é observando a figura abaixo
A espuma do chopp, o famoso colarinho, é um “desperdício”, então vamos chamá-la de potência reativa VAR). Se a espuma diminuir (garçom, sem colarinho, por favor) a quantidade de chopp, que é a potência real (watts), aumentará e com isso a potencia aparente (VA), que é a “soma” (vetorial!) do chopp com a espuma, ficará igual a potência real (beba com moderação).
Mas afinal como comprar o nobreak?
Primeiro você deve estar sóbrio e para simplificar as contas compre um nobreak com um valor VA cerca de 25 a 30% da potência em watts de tudo que você vai ligar nele que, em geral, será o PC e o monitor. A impressora não precisa ser ligada ao nobreak e só for laser, nem deve.
Dá próxima vez que você for comprar um nobreak explica isto para o vendedor, quem sabe ele aprende.
Aproveita e clica na imagem ao lado para baixar uma cópia de avaliação do livro
Até sempre.
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